São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 1997
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O MODO ASIÁTICO DE AJUSTE

Nas últimas semanas as economias do Sudeste Asiático passaram por mais uma rodada de desvalorizações cambiais e ataques especulativos. Espantosamente, o ataque às moedas tornou-se quase uma rotina e algumas já perderam 50% do seu valor com relação ao dólar desde o início da crise, há mais de três meses.
A análise desse processo, que parece ainda não ter chegado ao fim, já permite algumas conclusões. A primeira é positiva para o Brasil: o aprofundamento da crise foi tornando-a cada vez mais local e a hipótese do contágio praticamente saiu de cena.
A regionalização da crise pode ter resultado do tipo de reação articulada pelo FMI junto aos governos asiáticos, principalmente o Japão. Eles chegaram até a propor um fundo financeiro regional para defesa das moedas -rejeitado pelo FMI e pelos países ocidentais.
Mas, na prática, ocorreu um comprometimento maior dos países da região (até da China) com o pacote do Fundo. Esse compromisso regional ajudou a circunscrever a crise. Ou seja, na era da globalização, a dimensão regional pode ser importante.
Ao mesmo tempo, vários governos, a começar pelo da Tailândia, ensaiaram receitas próprias de ajuste e esboçaram uma resistência pragmática e silenciosa aos imperativos colocados pelo FMI e às expectativas dos mercados. Nesse caso, os capitais globais impuseram sua lógica cruel -houve novas rodadas de fuga de capitais e de desvalorização cambial.
Finalmente, embora a crise seja grave, a combinação curiosa de globalização e regionalização pode afinal gerar uma recuperação das economias mais rápida do que se imagina. Como, aliás, ocorreu no México.
Coordenação de governos para conter as crises, importância das expectativas globais de ajuste econômico "ortodoxo" e possível abreviação do período de recessão: esses podem ser os traços mais marcantes dos abalos financeiros recentes que, sendo brutais, não chegam a ser catástrofes irreversíveis ou inelutáveis.

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