São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 1997
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FHC gasta 39% a mais em publicidade

LUÍS COSTA PINTO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O governo federal terá este ano um gasto fabuloso com propaganda oficial: R$ 491 milhões. A despesa da administração do presidente Fernando Henrique Cardoso com sua publicidade e de seus ministérios e principais empresas estatais, como Petrobrás, Telebrás, Embratel e o Sistema Eletrobrás, aumentará 38,8% em relação a 1996.
No ano passado, quando ainda se debatia no Congresso a possibilidade de reeleição presidencial, o gasto total com publicidade oficial foi de R$ 354 milhões.
O tamanho da conta publicitária do governo, disputada palmo a palmo por quem o atende, está provocando uma guerra entre as agências de publicidade.
A Propeg, empresa baiana que foi dona das maiores contas nos governos dos ex-presidentes José Sarney (85-89) e Fernando Collor (90-92), é também a agência que receberá mais dinheiro do governo FHC. Realizando todas as campanhas que lhe foram contratadas este ano, receberá cerca de R$ 90 milhões da Petrobrás, da Eletrobrás e do Ministério do Planejamento.
Só a Petrobrás pagará à Propeg R$ 55 milhões para realizar a campanha "Brasil Real", publicidade institucional do governo que procura realçar os ganhos da sociedade com a estabilidade econômica obtida com o Plano Real.
Licitada a um custo de R$ 20 milhões, a campanha recebeu sucessivos aditamentos contratuais que a fizeram inflar para os atuais R$ 55 milhões.
Disputa
Nos bastidores do mercado da propaganda, em São Paulo e no Rio de Janeiro, e em alguns gabinetes de Brasília, o publicitário Roberto Duailib, dono da DPZ, tenta fazer com que o governo redistribua de maneira mais equânime as verbas oficiais de propaganda.
A sua agência receberá R$ 16 milhões do governo e perdeu para a Propeg a licitação de R$ 26 milhões que serão gastos em propaganda pelo Ministério do Planejamento na divulgação do programa "Brasil em Ação" (as 42 obras priorizadas pelo governo).
Duailib tem falado mal da Propeg e de seus métodos com publicitários e políticos.
"A DPZ está incomodada porque não admite que outras agências prestem serviços melhores do que ela. Não tenho que prestar contas a ela, e sim ao governo", diz Rodrigo Sá Menezes, dono da Propeg.
E ataca, sem dar nome às vítimas: "As agências de publicidade se acostumaram a ver o governo como vaca leiteira, tirando dele o maior proveito possível em troca de pouco serviço".
Duailib nega o mal-estar com a Propeg, apesar de discordar do resultado da licitação do Ministério do Planejamento, que perdeu por dois pontos para a agência de Menezes.
"De fato, ele não tem que prestar contas a mim. Reconheço os méritos da Propeg, que cresceu no atendimento a governos... É a sua especialidade", responde o dono da DPZ.
'Fazendo presidente'
O dinheiro que sai dos cofres da Petrobrás e engorda o caixa da Propeg causa polêmica.
Por lei, os contratos oficiais de publicidade só podem ser aumentados 25%, a título de adição. A Propeg ganhou a concorrência para prestar um serviço de R$ 20 milhões e agora, como fermento fazendo bolo crescer, receberá R$ 55 milhões sem participar de novas licitações.
O departamento jurídico da empresa de petróleo analisou o caso e autorizou a inflação dos gastos na campanha "Brasil Real", que não vende nenhum produto ou serviço da Petrobrás. Trata, isto sim, de falar bem do governo FHC.
"Aumentar o contrato em 25% é quase uma regra. Depois disso, foi feito o aditamento em mais 25% e, depois, mais um. Tudo foi autorizado pela área jurídica da empresa, que não deixaria passar nada ilegal", tenta explicar Sérgio Bandeira, encarregado da Coordenadoria de Publicidade e Propaganda da Petrobrás.
O deputado Delfim Netto (PPB-SP), que faz um levantamento sobre os gastos com publicidade oficial, ironiza o assunto e diz que o governo está pagando a campanha eleitoral com dinheiro público. "Gastar R$ 491 milhões com propaganda, em um ano, é fantástico. Estão fazendo o presidente assim: usam a estabilidade da moeda e, além disso, gastam por dia 11 mil salários mínimos em propaganda. Aí fica fácil", diz.

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