São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TV alega erro e repassa verba de sorteio

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

A empresa Abba Produções e Participações, que administra os sorteios de prêmios na Rede Record, está devolvendo dinheiro a instituições filantrópicas paulistas, em resposta à investigação sobre o escândalo da jogatina na TV.
Quatro instituições (Sociedade Pestalozzi de Campinas e de Sumaré, Casa do Menor de Campinas e Associação de Amigos do Autista, de São Paulo) foram procuradas por emissários da Abba, que levavam dinheiro vivo (em notas) numa pasta de executivo.
Uma série de reportagens publicada pela Folha, em setembro, revelou que as grandes redes de TV do país -Globo, Manchete, SBT, Record e CNT- se envolveram em um esquema milionário de sorteios de prêmios. Os concursos são realizados com o propósito alegado de arrecadar fundos para instituições beneficentes, mas as maiores beneficiadas acabam sendo as próprias redes de TV.
O jogo foi autorizado pelo Ministério da Justiça, em dezembro de 96. Até o final de agosto, já haviam sido autorizados cerca de 400 sorteios, com receita de R$ 119,6 milhões em ligações telefônicas.
Documentos obtidos pela Folha mostram que as entidades ficaram com apenas 5% do dinheiro arrecadado nos sorteios na Globo, SBT, Manchete e CNT e com cerca de 1% nos sorteios da Record.
O Ministério da Justiça criou uma comissão para modificar o regulamento dos sorteios. A Assembléia Legislativa de São Paulo instaurou uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) e o Ministério Público Federal abriu inquérito, também em São Paulo.
Dois funcionários da Abba procuraram, ontem à tarde, a direção da AMA (Associação dos Amigos do Autista) de São Paulo propondo pagamento extra de R$ 20 mil.
A AMA havia sido citada na série da Folha como uma das vítimas da jogatina pela TV. Durante três semanas (de 29 de março a 22 de abril), a Record sorteou R$ 176,4 mil em prêmios para arrecadar dinheiro para os autistas.
O sorteio arrecadou R$ 950.223,00 em ligações telefônicas. Ao final, a Abba depositou apenas R$ 10.040,48 na conta da instituição e alegou que todo o resto -R$ 940,2 mil- havia sido gasto em despesas do próprio sorteio.
A superintendente da AMA, Marisa Furia, afirmou que os emissários da Abba disseram que a empresa havia cometido um "erro de cálculo" e, por isso, estava oferecendo R$ 20 mil a mais. O pagamento foi feito em notas.
Na sexta, os mesmos emissários procuraram a Sociedade Pestalozzi de Campinas, levando R$ 16,245 mil em notas usadas. A entidade participou de um sorteio de R$ 96.074,90 em prêmios na Record -que arrecadou R$ 773.577,00-, mas só havia recebido R$ 8.424,05.
Creuza Medeiros, presidente da instituição, disse que o dinheiro veio em boa hora e que os funcionários da Abba alegaram que o erro foi fruto da pouca experiência da empresa com telessorteios.
A Casa do Menor de Campinas recebeu um adicional da Abba de R$ 5.300,00. O diretor operacional da entidade, Uélide Roberto da Silva, diz que ouviu a mesma alegação: "Erro de cálculo".
A Sociedade Pestalozzi de Sumaré (SP) também foi procurada pela Abba, mas, até agora, recusou a oferta. O presidente da instituição, Herman Yanssen, disse que os representantes da empresa lhe ofereceram R$ 10 mil em dinheiro.
"Em março, disseram que iríamos receber pelo menos R$ 25 mil e só nos pagaram R$ 2.020,58. Agora, disse a eles que só aprovo a documentação se pagarem o que nos foi prometido", disse Yanssen.
Outro lado
Procurado pela Folha, o gerente-geral da Abba, Gilberto Rosa, disse desconhecer que a empresa esteja procurando as instituições filantrópicas para oferecer pagamento adicional em dinheiro.
Rosa disse que também desconhecia a ocorrência de erro de cálculo por parte da empresa.

Texto Anterior: Na SIP, Zedillo ataca restrição à imprensa
Próximo Texto: Inquérito apura nova suspeita de irregularidade
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.