São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 1997
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Jordi Saval rege 'Música e Mitologia'

MARCELO MUSA CAVALLARI
DA REDAÇÃO

O espetáculo "Música e Mitologia" põe Jordi Savall, o instrumentista e regente catalão, às voltas com a música e a literatura da Renascença. Esse cruzamento permite que o mestre espanhol da música histórica revele o que sabe sobre o que há de medieval no repertório renascentista.
Os cantos guerreiros e amorosos de Lope de Vega, Claudio Monteverdi e Tarquinio Merula, que os conjuntos Hesperion XX (instrumental) e La Capella Reyal de Catalunya (vocal) apresentam, ficam no centro do repertório que Savall ajudou a redescobrir desde os anos 70.
Savall é o maior instrumentista de viola de gamba, ancestral do violoncelo presente na música da Idade Média ao barroco.
Ele fez pelo repertório da viola o que Gustav Leonhardt fez pelo cravo. Trouxe à tona, por exemplo, a obra do compositor jansenista francês Marin Marais.
Foi Savall que interpretou, musicalmente falando, o compositor no filme "Todas as Manhãs do Mundo". A popularidade da trilha sonora foi incomum para o repertório de música erudita em geral e de música antiga em particular.
Savall se tornou um dos astros do mercado. Voltou a fazer cinema: a trilha de "Jeanne la Pucellle", de Jacques Rivette, sobre santa Joana D'Arc.
Um pouco por força de seu instrumento e um pouco por força de sua origem, Savall ampliou muito o repertório que se ouve hoje. Tornou vivos compositores como Juan del Enzina, Luis Milán, Lope de Vega e Bartolomeu Cáceres.
Reviveu um mundo ibérico que ficava um pouco esquecido pelos demais mestres da interpretação históricas, fascinados pelos alemães, franceses e italianos.
Esse mundo ibérico se prende ainda muito fortemente a uma forma de cantar e tocar de tradição cavalheiresca. Ligada ainda ao canto narrativo e épico.
O repertório de hoje mostra bem essa dupla origem da Renascença. Os cantos amorosos e guerreiros bebem na fonte da mitologia clássica que se queria renascer.
É um mundo de deuses e heróis que se propõe como ruptura em relação ao mundo medieval. A música -e toda a música renascentista é assim- não pode senão se encontrar no desenvolvimento lento da polifonia que começa nos séculos 11 e 12.
Savall, à frente de seus instrumentistas e cantores -entre os quais Montserrat Filgueras, sua mulher-, viaja constantemente da Idade Média ao barroco. Sabe como poucos o que há de permanência e renovação nesse cenário.

Espetáculo: Música e Mitologia
Artista: Hesperion XX e La Capella Reyal de Catalunya; regência de Jordi Savall Quando: hoje, às 21h
Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, tel. 259-3616)
Quanto: de R$ 25 a R$ 50

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