São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 1997
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Estratégia da reeleição sofre mudança

LUÍS COSTA PINTO
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Fernando Henrique Cardoso fez ontem algo que não pretendia, não esperava e não queria fazer durante o seu governo: um pacote econômico.
Há preocupação com a repercussão social e eleitoral das medidas de arrocho fiscal, que -aumentando impostos, demitindo funcionários públicos e pondo fim a isenções tributárias- pretendem economizar R$ 20 bilhões. O governo está monitorando com pesquisas de opinião a receptividade ao pacote.
Durante todo o dia de ontem, hora a hora, chegavam ao Palácio do Planalto resultados tabulados de enquetes telefônicas sobre as medidas econômicas anunciadas pela manhã.
A operação, denominada "telemarketing", é uma variação mais sofisticada e instantânea das pesquisas de opinião pública. Esses levantamentos devem continuar a ser feitos hoje.
Na quinta-feira, o presidente recebe, no Planalto, uma pesquisa nacional consolidada sobre o impacto do pacote econômico. Depois dessa, serão feitas pesquisas mensais para avaliar o ânimo popular e o apoio ao governo e ao Plano Real no quadro de recessão econômica que se espera, mesmo dentro do governo, após o pacote.
Pacote viria em 99
FHC não queria fazer nenhum pacote econômico por causa da eleição do próximo ano, a primeira na qual um presidente da República disputará a reeleição.
A equipe de publicitários e profissionais de marketing que o acompanha e que faz as ponderações sobre as pesquisas de opinião pública encomendadas pelo Planalto achava eleitoralmente ruim qualquer medida impopular que mexesse no bolso dos contribuintes antes da eleição de outubro de 98.
O governo vinha se preparando para promover no primeiro trimestre de 99 o arrocho fiscal e tributário anunciado ontem.
Posto no canto da parede pela dinâmica dos mercados financeiros do mundo inteiro e pela queda nas Bolsas de Valores da Ásia, o presidente precisou reunir seus técnicos e ministros da área econômica e baixar o elenco de medidas que podem levar à recessão.
Isso fez com que os publicitários que trabalham para o PSDB e para o Planalto comecem a mudar o mote da campanha de reeleição de Fernando Henrique.
Eles estavam se programando para anunciar a candidatura de um presidente que tinha promovido a estabilidade econômica e se preparava para pilotar a volta do crescimento econômico do país.
Desde ontem, os profissionais de publicidade e marketing que já trabalham na campanha de reeleição estão tentando dar ao presidente da República o discurso do homem que, mesmo sob o risco de inviabilizar seu segundo mandato, tomou medidas impopulares para defender a moeda do país. A "coragem" e o "desprendimento político" de FHC devem ser ressaltados.
Oposição sem discurso
Apesar de inseguros sobre a maneira como a opinião pública receberá as medidas que obrigarão a classe média a passar por um arrocho, os governistas estão tranquilos quanto ao discurso eleitoral do presidente. Para eles, a oposição não tem conseguido criar nenhum discurso alternativo às medidas do governo.
É um fato. Ontem, alguns grupos de trabalho da Executiva Nacional do PT se reuniram em São Paulo. O partido ainda não tem um discurso articulado contra o pacote econômico nem opções a propor.
"As medidas são uma vassalagem do governo ao capital especulativo internacional. O governo cruzou os braços por três anos com medo de discutir com a sociedade essas medidas impopulares. Agora, por meio de 14 medidas provisórias e 12 decretos-leis, quer recuperar o tempo perdido passando a mão no bolso da classe média e dos pequenos empresários. Por que não propõe imposto sobre herança e sobre grandes fortunas? Por que não taxa mais os ganhos do mercado financeiro?", disse o presidente do PT, José Dirceu, na saída da reunião.
No próximo fim-de-semana, os economistas Aloizio Mercadante e Maria da Conceição Tavares (deputada federal pelo PT do Rio de Janeiro) reúnem-se com outros economistas, filiados ou não ao PT, para debater alternativas de saídas econômicas para o Brasil fora do receituário oficial.
No dia 17 de novembro, a Executiva Nacional do partido divulgará um documento oficial sobre a crise.

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