São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 1997
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Estilista sonha com a Índia mas já cogita Machu Picchu

Ele queria uma Palio Weekend nova, mas aceita um "popular"

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O estilista e microempresário Marcelo Gaudi, 28, sonhava passar o fim do ano na Índia e começar 1998 com um Palio Weekend novinho.
Depois do pacote de FHC, cogita ir para Machu Picchu, no Peru, e trocar seu Corsa 95 por um carro dito popular, com motor de mil cilindradas.
Gaudi é a vítima preferencial do pacote anunciado ontem. Foi apanhando no contrapé, comprando passagens para o exterior e trocando de carro.
Poderia usar o nome de suas grifes para expressar a reação da classe média ao pacote: Será o Benedito? e Dai-me Paciência, de roupas moderníssimas para jovens idem.
"Quem está se ferrando é a classe média, o microempresário. É sempre assim", resigna-se Gaudi.
A trajetória dos negócios do estilista sintetiza o desencanto da classe média com o Real.
Ano passado, ele vendia R$ 30 mil por mês em roupas. Achava que o país caminhava para a estabilidade, tal qual a Inglaterra país em que ele morou.
Neste final de ano, as vendas despencaram para R$ 15 mil mensais. Tinha 20 funcionários e hoje tem três. Terceirizou o que pode para se livrar de encargos trabalhistas.
Acha que o presidente Fernando Henrique Cardoso não é o culpado pelas suas perdas.
"Sou a favor do Fernando Henrique. Votei e votaria nele de novo, por enquanto. O problema é o Congresso. É uma palhaçada", afirma.
Ruim e desastroso
Gaudi diz que votaria em FHC com o ressalva do "por enquanto" porque trabalha com dois cenários para o país: um ruim e outro desastroso.
No cenário ruim, as vendas de suas grifes no Natal seguem o mesmo patamar de R$ 15 mil ao mês ("o que é muito ruim, porque não haverá aumento no Natal"), Gaudi compra a passagem de US$ 2.500 para a Índia, Tailândia e Bali em seis vezes, reduz suas férias de três meses pela metade e tenta tirar o Palio Weekend num consórcio.
No cenário do desastre, as vendas de Natal despencam mais ainda, a Índia passa a ser um sonho distante, ele vai para Machu Picchu e se contenta com um carro de mil cilindradas.
"É melhor do que nada, mas péssimo para quem trabalha como um camelo", avalia.
No cenário ruim, o voto de Gaudi é para FHC por acreditar que o país precisa de regularidade ("Não tenho ilusões de que um presidente conseguirá mudar o país em quatro anos").
No cenário desastroso, ele crava Ciro Gomes na eleição presidencial do ano que vem.
"O Ciro Gomes pode dar uma chacoalhada no país. Sei que personalidades como o Collor não resolvem, mas em cenários desastrosos você não age racionalmente", avisa. A prova é que ele votou em Collor.

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