São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Artista implanta hoje chip no corpo

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O artista multimídia Eduardo Kac senta-se hoje, a partir das 21h30, numa maca na Casa das Rosas, na avenida Paulista, toma uma anestesia local, faz uma incisão com bisturi no tornozelo esquerdo e implanta ali um chip.
A memória de computador tem o tamanho da ponta de um lápis (15 mm x 2 mm) e traz um número que poderá ser decodificado: 026109532. Ficará no corpo do artista pelo resto da vida.
O médico Paulo Flávio Gouveia e uma ambulância acompanham a operação, transmitida ao vivo pela TV Cultura e Internet (www.dialdata.com.br/casadasrosas/net-art/kac).
Não se trata de um procedimento cirúrgico, segundo Kac. "O implante é parte de um trabalho de arte", diz. O próprio Kac considera a operação "uma loucura". Tanto que demorou quatro anos para executá-la, não por problemas técnicos, mas por "um processo pessoal".
No mês passado, ele tentou fazer a operação no Instituto Cultural Itaú, mas ela foi vetada.
A operação é uma loucura, mas o trabalho, não, diz Kac. Na parede da galeria, ele exibe fotos que sua avó materna trouxe da Polônia ao fugir dos nazistas em 1939. Foi um dos poucos bens que ela carregou, junto com um travesseiro.
A avó de Kac era judia e sobreviveu, mas outros personagens das fotos morreram em campos de concentração.
"Eu não vivi essas experiências, mas elas fazem parte da fibra do meu corpo. Estou fazendo esse implante para atender emoções que me acompanham desde criança", afirma.
A idéia de Kac é confrontar dois tipos de memória: a que decorre da experiência pessoal e a que é externa. Daí, a escolha da memória de computador, uma memória externa.
Ele diz estar interessado em investigar o que ocorre com a inflação de imagens que empesteia o mundo, quando uma foto não é sinônimo de verdade porque pode ser manipulada ao infinito.
Fenômeno similar está ocorrendo com o corpo, segundo o artista, com a disseminação das cirurgias plásticas.
"O corpo pode ser construído, apagado, restaurado. Já não há mais verdade no corpo", diz.
Cirurgias não são inéditas na arte. A francesa Orlan submete-se a operações plásticas -numa ficou com o rosto da Monalisa- e o resultado é a sua obra. Inédito é implantar um chip.

Exposição: Arte Suporte Computador
Quando: hoje, a partir das 20h30
Onde: Casa das Rosas (av. Paulista, 37)

Texto Anterior: O SUS no país do real
Próximo Texto: 9 de Julho é liberada em horários de pico; Teste de fura-fila será em Interlagos; Metroviários decidem cancelar greve; Polícia facilitou fuga, diz corregedor da PM
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.