São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Equipe chegou a temer repercussões

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A equipe econômica chegou a temer as repercussões político-eleitorais do pacote anunciado ontem, mas decidiu deixar a arbitragem final para o presidente Fernando Henrique Cardoso.
"Não podemos ter censura política", disse o ministro da Fazenda, Pedro Malan, durante uma das inúmeras reuniões da semana passada. Era quinta-feira, o pacote estava praticamente delineado.
No mesmo dia, o ministro do Planejamento, Antonio Kandir, foi ao Palácio do Planalto levar esse esboço para FHC e o chefe da Casa Civil, Clóvis Carvalho.
O presidente deu o aval para as medidas, que atingem funcionários públicos, empresas estatais, governos estaduais e a classe média. Embarcou logo depois para Cartagena (Colômbia) e para as Ilhas Margarita (Venezuela). No domingo à noite, bateu o martelo.
Colagem
Na segunda quinzena de outubro, a crise das Bolsas já rondava o mundo e desabava no Brasil. No dia 29, FHC já discutia a necessidade do pacote com Malan, Kandir (que antecipou a volta dos EUA) e Martus Tavares, secretário-executivo do Planejamento e expert em Orçamento.
Quando veio a decisão de praticamente dobrar os juros, Clóvis Carvalho disse à Folha que não haveria "overdose". Entretanto, os estudos para os cortes de gastos e aumento de arrecadação corriam soltos na área econômica.
Na quarta-feira, dia 5, o secretário-executivo da Fazenda, Pedro Parente, já tinha uma espécie de ata sobre as discussões e alternativas colocadas até então na mesa.
A dúvida, naquele momento, era se o governo deveria anunciar rapidamente uma meta fiscal, para acalmar os investidores externos, ou se deveria antes compatibilizar metas e medidas. Prevaleceu a tese de divulgar tudo de uma só vez.
Com o presidente do Banco Central, Gustavo Franco, praticamente imobilizado no acompanhamento das graves oscilações das Bolsas, comandaram o processo Malan, Kandir, José Roberto Mendonça de Barros (secretário de Política Econômica da Fazenda), Parente e Martus.
Na quarta-feira, eles já haviam encomendado as propostas de contenção de despesas que havia tempos vinham sendo alinhavadas nos ministérios da Previdência e da Administração.
Na quinta, incluíram essas propostas no esqueleto original. Parente (apesar de ficar às voltas com governadores boa parte do dia) e Martus Tavares fizeram a triagem principal.
Na sexta-feira, dois técnicos estavam agregados à equipe: Eduardo Guimarães (secretário do Tesouro) e Waldemar Giomi (secretário de Orçamento).
No sábado, outra dúvida sobre os limites do pacote: se os cortes deveriam atingir apenas custeio ou chegar até alguns projetos. Decidiram chegar aos projetos, desde que preservado o "Brasil em Ação" -carro-chefe da campanha de FHC para 98.
Depois de dedicarem todo o sábado a fechar as cerca de 50 medidas incluídas, os ministros encarregaram Amaury Bier e Sérgio Fausto, assessor especial de Kandir, de redigir o texto básico da Exposição de Motivos.
Eles terminaram por volta da 1h de domingo e estavam a postos às 9h para submeter o texto aos chefes. Tiveram, então, um problema técnico: o laptop de Fausto opera com o programa "Word 97", mais moderno do que os usados pela Fazenda.
Em pleno domingo, a equipe teve de achar um técnico em casa para conseguir fazer o mais trivial: tirar cópias do texto em papel. Malan, depois, acrescentou um único parágrafo.
O domingo foi dia de intensas reuniões e "ensaios". Foi quando Malan, Bier, José Roberto Mendonça de Barros e Parente apresentaram o pacote todo a Clóvis Carvalho, ao assessor especial do Planalto André Lara Resende e ao porta-voz do Planalto, Sérgio Amaral.

Texto Anterior: Governo admite mudanças e pode ter de ceder no IR de pessoa física
Próximo Texto: Medidas podem ser alteradas, diz ACM
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.