São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 1997
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Crise nos mercados emergentes agora se torna de ordem política

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Esqueça as Bolsas. Esqueça os juros. No efeito dominó da crise financeira nos mercados emergentes, a questão agora é de ordem política. É a sustentação dos governos que está em xeque. Afinal, quando os governos fazem choques de juros e de aumento de impostos, sua popularidade costuma cair imediata e vertiginosamente.
A politização da crise financeira assume formas diferentes, mas fica explícita sempre que os governos precisam adotar pacotes fiscais para defenderem suas moedas.
E aí já não faz diferença ter feito ou não uma desvalorização cambial, ter resistido ou não aos ataques dos especuladores globais.
Na Tailândia, mesmo depois de megadesvalorizações, o governo caiu. Na Argentina, o câmbio continua no mesmo lugar, mas o grupo do presidente Menem está perdendo eleições para a oposição.
Os exemplos estão pipocando, num efeito de contágio que revela, junto com a fragilidade financeira, riscos políticos crescentes em países que nunca primaram pela estabilidade institucional prolongada.
Ontem mesmo, conversando com um dos principais executivos de um grande banco estrangeiro que vinha ganhando espaço no mercado brasileiro, de cara ouvi a pergunta fatal: a reeleição de FHC resiste ao ajuste?
Há um paradoxo evidente, um círculo vicioso infernal. Os mercados exigem ajustes fortes, muita austeridade, aumento de juros, corte de salários e emprego.
Tudo com o objetivo de tornar a economia em questão mais confiável do ponto de vista econômico. Mas as próprias medidas que ajudam a reduzir o risco financeiro aumentam o risco político. Isso gera expectativas de que o governo mostre ainda mais fervor nos ajustes e cortes. O que diminui ainda mais a popularidade, fator crucial onde há algum tipo de democracia.
Para defender as taxas de câmbio ou, depois da desvalorização, para evitar uma catástrofe completa, os governos precisam mostrar aos mercados que são capazes de evitar os erros do passado. Entre os erros considerados clássicos pelos manuais estão: excesso de gastos, proteção a setores econômicos, subsídios e isenções fiscais, políticas de crédito seletivas.
Ser "economicamente correto", entretanto, significa colocar em risco votos, fundos de campanha e projetos de desenvolvimento.

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