São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 1997
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Brahma cancela investimentos

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
WALTER WIEGRATZ

WALTER WIEGRATZ; CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

Setor de bebidas prevê aumento no preço

A Brahma decidiu cancelar os US$ 300 milhões de investimentos que iria realizar no Brasil em 98, disse o diretor-geral da empresa, Marcel Telles.
Segundo ele, 2.000 empregos diretos e 10 mil indiretos deixarão de ser criados. "Não precisamos aumentar nossa capacidade produtiva se o mercado não vai crescer."
Sem saber qual seria o tamanho das novas alíquotas de IPI para bebidas, Telles fez os cálculos e concluiu que qualquer aumento superior a 10% trará fechamento de fábricas e desemprego.
Irritado, Telles disse que "governos passados" já aumentaram o IPI de bebidas e a arrecadação não cresceu. "O governo acaba matando as galinhas dos ovos de ouro", disse ele.
Em 91, contou, a alíquota subiu 20% no final do ano e o consumo caiu 20%. "O efeito líquido foi zero e fechamos oito fábricas."
Telles afirmou que a bebida e o cigarro sempre são os eleitos pelo governo para o aumento de impostos. "Desta vez, os cigarros escaparam. Eu não sei como. Queria saber para escapar."
Ele afirmou que os governos sempre esquecem que o setor de bebidas tem 40 fábricas, com 60 mil funcionários, e mil revendedores que empregam 70 mil pessoas. "O aumento traz consequências ruins para toda a economia."
Telles diz que o governo não está cumprindo sua parte no corte de gastos e que a arrecadação tributária no Brasil cresceu de 24% do PIB para 31% no Real. "A arrecadação é escandinava mas a aplicação dos recursos é equivalente à de Gana."
Ele previu alta nos preços da cerveja, mas só no primeiro momento. "A concorrência é muita e força os preços para baixo", afirmou.
Para Marcos Mesquita, do Sindicerv (reúne os fabricantes de cerveja), "o IPI é expressivo no custo da cerveja e deve ser repassado para o preço."
Segundo Mesquita, o IPI sobre a cerveja -algo em torno de R$ 1,5 bilhão- equivale a 80% do total arrecadado com o imposto pelo governo com todas as bebidas.
Como Telles, Mesquita considera o aumento do imposto "contraproducente". Segundo ele, aumentar o IPI na época em que se vende mais cerveja (de setembro a março) pode comprometer e não beneficiar a arrecadação.
Otávio Pipa de Albuquerque, da Expand Importadora, prefere o aumento do IPI a uma desvalorização cambial.
Segundo ele, não haverá impacto sobre as importações de vinho. "O aumento atingirá no máximo 10%", disse ele.
Para Marco Simões, diretor de relações externas da Coca-Cola, afeta negativamente o setor de refrigerantes o aumento do Imposto de Renda sobre pessoa física e o aumento dos combustíveis.
"O combustível é um dos nossos mais importantes insumos. Felizmente, o aumento do IPI só atinge as bebidas alcoólicas."

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