São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Prova de coragem e confiança

GERALDO ALCKMIN

A Companhia Paulista de Força e Luz foi bem vendida porque está vendendo saúde financeira. Salva da onda de descalabro administrativo que, nos dois governos anteriores, quase levou à falência as outras estatais de energia de São Paulo, a CPFL já era uma boa empresa. Mas atingiu resultados excelentes depois de passar pelo rigoroso processo de recuperação adotado para todo o setor pela administração Covas.
De 94 a 96, a CPFL ampliou seu lucro líquido de R$ 18,7 milhões para R$ 118,9 milhões, soma já ultrapassada pelo acumulado nos três primeiros trimestres de 97: R$ 130,7 milhões.
Para chegar a esses resultados, no mesmo período, reduziu em 27% os seus custos com a aquisição de materiais e serviços de terceiros, em 4% a despesa operacional e em 11% o total dos cargos de gerência e assessoria. Tinha 7.755 funcionários em 94; hoje, tem 5.694, 26,5% a menos.
Enxuta, eficiente e com um mercado de energia elétrica equivalente ao do Chile, era certo que a CPFL despertaria grande interesse de investidores. O que muitos duvidavam era se esse interesse seria convertido em bom preço de venda, num momento de tanta turbulência nas finanças internacionais.
Bolsas despencando e juros rumando à estratosfera eram indícios de que dificilmente a empresa seria vendida por quantia expressivamente superior ao preço mínimo da avaliação, fixado em R$ 2,09 bilhões. Não faltaram sugestões para que o leilão fosse adiado por alguns dias, até que clareassem os horizontes das Bolsas e das taxas de juros.
Para o governo de São Paulo, manter a data fortaleceria o Programa Estadual de Desestatização, que -por seu andamento criterioso e firme- já vem conquistando integral confiança junto aos empresários e ao povo paulista.
Entretanto, para o governo federal, a importância era muito maior. Fazer o leilão justamente num momento de crise significava reforçar suas ações políticas e econômicas em defesa do real, exposto a ataques especulativos como outras moedas em todo o mundo.
Foi aí que o governador deu prova de grande coragem. Manteve a data do leilão, certo de que verdadeiros investidores -e não especuladores- saberiam reconhecer o expressivo valor da CPFL, especialmente após sua reestruturação.
Mais do que confiante, Covas estava consciente da sua responsabilidade em usar a credibilidade que reconquistou para o governo e para as estatais paulistas no sentido de dar respaldo a medidas federais que buscassem manter a estabilidade da moeda e da economia.
Essa prova de coragem, confiança e responsabilidade foi recompensada por um ágio de 70%, que elevou a venda da CPFL para R$ 3,536 bilhões, valor acima do obtido no leilão da Vale do Rio Doce e o mais alto já alcançado em uma privatização no país.
Estou certo de que esse foi apenas o primeiro grande resultado do Programa Estadual de Desestatização. Outros, ainda melhores, serão alcançados no primeiro semestre de 98, com a privatização da Cesp e da Eletropaulo. São empresas que também vendem saúde; passaram por um processo de enxugamento mais rigoroso que o da CPFL.
Destaque-se ainda que essas vendas estão sendo precedidas de uma ampla reestruturação do setor elétrico. Essas duas companhias estão sendo divididas em outras empresas, que cuidarão de três áreas distintas: geração (usinas), transmissão (linhas de alta tensão) e distribuição (redes urbanas e de menor potência). A área de transmissão permanecerá sob controle estatal, para garantir igualdade de competição entre as empresas de geração e distribuição, que serão inteiramente privatizadas.
Para maior garantia dessa competição -e, principalmente, dos consumidores-, o governo criou a Comissão de Serviços Públicos de Energia, que, integrada por representantes da sociedade, vai exercer o papel regulador e fiscalizador de todas as companhias do setor energético. Fazendo observar, inclusive, os índices de qualidade dos serviços, que foram ampliados dos quatro atuais para os 22 que deverão ser cumpridos pelas novas empresas.
Com isso, demonstra-se que a maior preocupação do governo não é apenas vender suas empresas, mas sim torná-las mais eficientes e competitivas.
Assim, além de respeitar regras novas e mais criteriosas, essas privatizações continuarão tendo a marca da transparência e da confiança mútua que une o governo paulista e o empresariado, ambos cientes da responsabilidade que têm de bem usar as potencialidades do Estado de São Paulo para criar mais empregos, melhorando as condições de desenvolvimento do país.
Vale notar que o processo de venda da CPFL foi tão claro e criterioso que ganhou um "atestado de probidade", provocado pelos próprios opositores da privatização. Um, não: 25. Esse foi o total de liminares tentadas para embargar o leilão, nas horas que o antecederam; nenhuma chegou a ser concedida.

Texto Anterior: Intervalo especulativo
Próximo Texto: A sociedade de olho no dinheiro público
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.