São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 1997
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LEIA A ÍNTEGRA DISCURSO DO PRESIDENTE

Senhoras e senhores, dá gosto ver que as coisas começam a brotar. Alguns dos senhores têm assistido, desde o início do governo, a minha pregação -e a palavra é essa, pregação- no sentido de nós mudarmos a nossa obsessão brasileira antiga de somente ver o que é espetacular, a grande obra. É de nós esquecermos que a obra que permanece e a obra que se multiplica e que pega aqueles que necessitam mais de atenção, não só do governo, da própria sociedade. Agora já se vê, os números são eloquentes, os números do dr. Ximenes sobre o programa Pronaf, sobre o Proger, de assistência ao emprego, de assistência ao pequeno e micro produtor rural, os números que o ministro Brito mencionou, do esforço feito pelo Ministério de Minas e Energia, que nunca cuidou desse tipo de questões e, sobretudo agora a ação da Fundação Banco do Brasil, que tem se dedicado de uma maneira muito ativa na inovação das formas pelas quais o Brasil enfrenta as questões relativas ao bem-estar da sua população. E bem-estar não pode ser visto apenas como obra do governo federal, do governo estadual ou mesmo do governo municipal.
Então pouco basta dizer que o Ministério da Agricultura, irmanado com o da Saúde, com o da Educação, com o de Minas e Energia, e com que outros ministérios existam estejam, realmente, agindo em conjunto, é preciso mais do que isso. Sem que a própria comunidade se sinta tocada e responsável, as coisas não caminham. E aí o elo é o prefeito, e a prefeita, que têm o contato direto com a realidade local, que podem chamar a atenção e motivar os habitantes da sua região para uma ação coordenada.
O Brasil precisa, e está, mudando de cara. Vimos aqui uma fotografia que queria simbolizar, e agora que se fala tanto na época de Monteiro Lobato, no Jeca Tatu, no Menotti Del Picchia, enfim, dos homens que olharam um Brasil rural. E que era um Brasil que não caminhava, era um Brasil em que o tempo não contava, quatro séculos atrás igualzinho ao que havia ontem. Agora já se vê, no campo, nas comunidades mais pobres, um começo de um outro Brasil. E o começo está aqui, na nossa frente, são as crianças quando elas têm atenção da escola.
É muito importante o que foi mostrado aqui. É preciso que tenha um ônibus, por precário que seja, que vai levar a criança à escola, traga a criança da zona rural para ir à escola. Isso nós estamos fazendo. É, começamos lá no vale do Jequitinhonha, que é em Minas Gerais, e se está espalhando. Claro que há iniciativas de governadores. O governador de Sergipe é um dos que mais têm demonstrado capacidade de sensibilidade popular nesse aspecto.
Mas é preciso que a distribuição desses recursos seja feita de forma que não privilegie quem pede, o político que pede ou quem dá, o presidente, o governador ou o prefeito, senão que beneficie a população que precisa, com critérios objetivos. Porque não se pergunta se o prefeito é deste ou daquele partido. Nós todos, neste momento, somos um só partido, que é o Brasil, que tem no seu futuro as crianças. E, portanto, temos de estar todos juntos, olhando para o que acontece nesse nível da população rural.
Mas por mais que nós tenhamos já iniciado -e há muitos programas já em marcha- toda criança na escola, o programa do agente comunitário de saúde, que é um sucesso fantástico, que nós estamos apoiando com muita energia, a modificação dos critérios do Ministério da Saúde para distribuição de recursos para, efetivamente, atendermos aos mais pobres. E todas as vezes em que, no Brasil se quer atender aos mais pobres, os mais ricos gritam como se fosse em nome do povo, para impedir que se mudem as coisas e dizem: "não, estão tocando no bolso do povo." Não é do povo, é deles, dos que mais têm.
Nós vamos insistir na linha de, efetivamente, atender aos que mais necessitam e não aqueles que por já terem, têm mais capacidade de falar, de ir para televisão, para o rádio, para a imprensa e até no Congresso para protestar com mais veemência, enquanto que a maioria que necessita não tem, ainda, os recursos de mobilização e, por isso mesmo, precisa que a sociedade se mobilize, também, para atendê-la.
O exemplo da Fundação Banco do Brasil tem de ser multiplicado. Nós, hoje, contamos com algumas instituições no Brasil, algumas fundações, algumas instituições governamentais, alguma gestão, envolvidas em programas dessa natureza, mas é preciso que multipliquemos esses programas, porque senão não daremos conta da nossa responsabilidade histórica, que é de transformar o Brasil para os seus filhos, para suas filhas. Isso não se faz somente por uma decisão governamental, isso se faz pela motivação do conjunto da população brasileira.
Mas eu acho que o importante é perceber que já estamos caminhando. Aqui há 60 prefeitos e prefeitas de pequenas comunidades, que já estão motivados para isso. E não são os únicos, há milhares. E mais importante até, talvez, do que isso, há centenas de milhares que cobram, que querem ver o efeito. Querem avaliar os programas. Querem saber qual é o resultado. Querem saber se o recurso posto chegou, realmente, às mãos daquele que necessita. E criticam. E protestam. É por isso que o Brasil vai para a frente. Pois nós somos um país aberto. Um país onde a sociedade está se democratizando crescentemente e os governos têm, queiram ou não -e nós queremos- atender aos anseios do povo.
É por isso também, meus amigos, que eu guardo muita confiança neste país. Sempre tive, continuo tendo e continuarei sempre a ter. Porque, alguns de nós aqui somos contemporâneos da época do Jeca Tatu. Vimos -o ministro disse da infância dele- eu nasci no Rio de Janeiro, não tive infância rural. Mas toda a ambiência do Brasil, de quando eu nasci, era uma ambiência de falta de perspectiva. O tempo não contava. Avós, bisavós tinham nascido como aquele que ali estava. E seus filhos, provavelmente, seriam da mesma maneira.
Hoje não. Hoje a gente percebe que as coisas mudam. E mudam no campo. E quando muda no campo, nas comunidades mais pobres é que interessa. Porque significa que chegou realmente, ali, onde é mais necessária uma motivação para que possamos avançar.
O ministro falou em várias formas de energia. Na distribuição de energia rural. Falou que existe, inclusive, forma de energia eólica -eu próprio já vi prefeituras que distribuem mecanismos para gerar energia eólica. Outras fazem a mesma coisa para captar energia do sol. Até mesmo nesse sentido as coisas estão avançando no Brasil.
Ontem, numa outra sala aqui deste palácio, nós estávamos premiando funcionários públicos. Quarenta e cinco funcionários públicos brasileiros, que tinham nas suas instituições criado condições melhores de trabalho. Pequenas inovações que faziam avançar aquilo que é fundamental no serviço público, que é o atendimento ao povo. O atendimento à clientela. E a partir de milhares e até milhões de pequenas coisas, pequenas iniciativas, que realmente o país consegue se transformar com mais vigor. Isso não quer dizer que o país não tenha também de fazer as grandes obras, que está fazendo. Tanto na parte de infra-estrutura, quanto na parte social. Não é fácil tomar decisões, como as que nós temos tomado, de fazer, colocar à disposição de todos os brasileiros escolas para as crianças e tentar colocá-las, efetivamente, na escola. É um programa de grande abrangência, de grande ambição. Não é fácil, como já se fez, na área de saúde acabar com algumas endemias. E não é fácil também fazer, como nós vamos fazer, uma modificação profunda na distribuição de recursos dentro da Funasa e dentro do Ministério da Saúde, para realmente popularizar o atendimento. E nós precisamos das grandes obras. Nós precisamos das ações que sejam motivadoras em sentido macro, mas elas complementam essas ações que se realizam em sentido mais multiplicado por pequenas atividades pelo Brasil afora.
E tudo isso está junto do empenho imenso do Brasil e do governo de manter um clima, no Brasil, de confiança, de luta, de defender nossos interesses, defender nossa moeda, avançar, não temer, não desanimar, não acreditar em recessão. Acreditar que o Brasil tem um potencial enorme e que nós não vamos deixar passar a oportunidade histórica, como estamos vendo aqui, diante de nós, de fazer do nosso futuro, agora. Isso é a prova de que o futuro do Brasil já começou. Um futuro que não é só de grandeza, no sentido qualquer que ele seja, econômico ou político. Mas é um futuro de confiança do povo. É um futuro de bem-estar para a população. É um futuro, e termino dizendo isso, de solidariedade. A palavra solidariedade, inclusive de comunidade solidária, não é vã. É que em uma sociedade, como são as sociedades modernas, em que tudo parece vir das máquinas, tudo parece vir de alguma que não é controlável por uma pessoa só -e não é mesmo-, e por um conjunto, e muitas vezes ninguém tem bem o controle. Nessas sociedades é preciso que alguns valores morais permaneçam vivos. E um muito importante é o da solidariedade. É daqueles que podem ajudar os que não podem. É de nós todos percebermos que é preciso atender ao pobre. Ao pequeno. Ao que não tem condições. E isso, é fundamental para que nós possamos também, ao mesmo tempo, com a nossa coesão, com a nossa solidariedade, termos força para levar adiante os projetos nacionais, que muitas vezes são projetos levados adiante, e até mesmo beneficiando mais aos mais ricos do que aos mais pobres. Mas, se os mais ricos se esquecerem dos mais pobres, se em cada ato de decisão de governo nós não tivermos o cuidado de separar, é ver se o nosso ato a quem atinge, de tal maneira que nós preservemos sempre o interesse do que mais precisa, e que nos concentremos naquilo que é essencial para o que mais precisa, nós falharemos. Mas o Brasil não vai falhar. O Brasil nem pode mais falhar, porque os que mais precisam hoje sabem que é possível mudar. E exigem que se mude, e nós estamos mudando, e mudando graças a vocês, prefeitos, instituições, funcionários, povo, crianças que estão acreditando que nós estamos dando passos cada vez mais seguros para um futuro melhor. Muito obrigado aos senhores.

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