São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 1997
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Pacote tira R$ 55 mensais de casal

SOLANO NASCIMENTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O engenheiro elétrico Wilde Cardoso Contijo Júnior, 35, e a funcionária pública Sandra Bernardes Ribeiro, 36, estão refazendo as contas da família. O pacote fiscal do governo vai tirar-lhes R$ 55 mensais.
Casados há 11 anos, pais de dois filhos e vivendo em uma casa de quatro quartos na cidade-satélite de Taguatinga, os dois são uma espécie de alvo preferencial das medidas do governo.
Pertencem à classe média, recolhem Imposto de Renda, gastam muita gasolina, pagam juros a bancos e viajam ao exterior, ainda que raramente.
Há um agravante. Sandra é funcionária pública não estável e corre o risco de ser atingida por uma das 33 mil demissões prometidas pelo governo.
As despesas do casal começam a aumentar na prática amanhã, com o reajuste do preço da gasolina. Por morar fora de de Brasília, onde trabalham, os dois chegam a percorrer 100 km diários.
Contijo gasta cerca de R$ 170 mensais com a gasolina de seu Fiat Fiorino, e Sandra chega aos R$ 200. O aumento de 6,3% no preço da gasolina vai fazê-los gastar R$ 23,31 a mais por mês.
Depois, será a vez do Imposto de Renda. Arquiteta, Sandra tem um rendimento bruto de R$ 1.514,90 no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Em seu último contracheque, ela descontou R$ 27,84. Com a mudança da alíquota, deverá pagar no próximo mês R$ 30,62.
Contijo não tem vínculo empregatício e recolhe R$ 185 mensais referentes a um pró-labore de R$ 2.000 ganho nos projetos que faz. A mudança no IR vai elevar seu recolhimento para R$ 203,50 mensais.
O pacote também adiou a troca de carro, que estava prevista para o final do ano, e os planos de viagens internacionais.
Sandra contava com o dinheiro de uma ação trabalhista para ir à Europa. Também está ameaçada a viagem de Paula, 10, e Rafael, 7, filhos do casal.
Quando no ano passado eles foram transferidos de uma escola particular para a rede pública, os dois ouviram uma promessa: o dinheiro que seria economizado iria bancar uma visita à Disneylândia, nos Estados Unidos.
Paula está chateada, mas Rafael não parece decepcionado. "Meu primo disse que o Beto Carrero é melhor", diz, referindo-se ao parque de Santa Catarina.

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