São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 1997
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Oposição quer evitar 'efeito caipirinha'

LUCAS FIGUEIREDO
ENVIADO ESPECIAL A BARILOCHE

Governo, políticos de oposição e empresários argentinos querem diminuir a dependência do país em relação ao Brasil. O objetivo é ficar menos vulnerável à instabilidade econômica de seu maior parceiro comercial.
A redução da chamada "Brasil-dependência" foi um dos principais temas do discurso do vice-presidente argentino, Carlos Ruckauf, no jantar de anteontem na abertura do encontro anual do Idea (Instituto de Desenvolvimento Empresarial da Argentina).
"É urgente a necessidade de diversificar as exportações. É importante reduzir a dependência de fatores externos", disse Ruckauf a cerca de 300 empresários, principalmente argentinos e brasileiros.
"Suportamos o efeito tequila e o efeito arroz e estamos trabalhando duro para evitar o efeito caipirinha", disse Ruckauf.
A Argentina direciona ao Brasil cerca de 30% de suas exportações. No setor automotivo, o percentual chega a quase 50%. "A análise dos números do nosso comércio exterior prova que assistimos a um processo de dupla concentração: de produtos e de clientes", afirmou Ruckauf.
A opinião é compartilhada por Carlos "Chacho" Alvarez, um dos pré-candidatos à Presidência pela Aliança (junção dos dois maiores partidos de oposição: União Cívica Radical e Frepaso).
"Eu não gosto de usar o termo 'Brasil-dependência'. Mas diversificar as exportações seria muito bom para a Argentina. O Chile, por exemplo, é menos vulnerável a crises", afirmou ele.
Petróleo e trigo
Segundo a Folha apurou junto a autoridades do Ministério da Indústria e do Comércio da Argentina, já estão sendo feitas análises para saber que mercados poderiam comprar os produtos que deixarão de ser vendidos ao Brasil em razão da crise econômica.
A conclusão é que o petróleo e o trigo possuem competitividade e podem ser exportados para outros países. Os setores automobilístico, têxtil e de produtos alimentícios são os que mais irão sofrer para buscar alternativas de mercado.
"Ainda temos muita confiança no Brasil. Mas seguramente vamos nos esforçar para fortalecer as exportações que estamos fazendo para outros países da América Latina", disse à Folha o presidente da Fiat da Argentina, Vicenzo Barello.
Queda de rentabilidade
Pesquisa feita pela empresa Eduardo D'Alessio e Associados com 175 executivos que participam do encontro em Bariloche aponta que 58% deles acreditam que as mudanças no comércio exterior serão o motivo principal da queda da rentabilidade nas empresas.
Dentre os empresários ouvidos, 36% disseram que a situação econômica do país vai piorar no primeiro semestre de 98. Antes da crise no Brasil, esse número era de 11%.
A porcentagem dos que crêem que o próximo semestre será melhor economicamente era de 67% antes da crise. Agora, é de somente 28%.
Para 22% dos empresários consultados, os setores nos quais atuam estarão, nos primeiros seis meses de 98, em situação pior do que a atual. Antes da crise, esse número era de 7%, segundo a pesquisa.

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