São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 1997
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Empresários temem a hipótese de que governo desvalorize o real

FREDERICO VASCONCELOS

FREDERICO VASCONCELOS; SILVIO SCIOFFI; FÁTIMA FERNANDES; VANESSA ADACHI
DA REPORTAGEM LOCAL

Líderes entendem que mudança seria caminho sem volta nos rumos da economia

Os empresários não admitem a hipótese de uma desvalorização cambial. Levantamento realizado pela Folha, ouvindo lideranças de vários segmentos da economia, revela o temor a uma eventual alteração no câmbio, no curto prazo.
"O governo não vai e não deve mexer no câmbio. É uma aventura, um caminho sem volta", diz Paulo Godoy, presidente da Apeop (Associação Paulista dos Empresários de Obras Públicas).
"O governo tem que se esforçar para aprovar as reformas e esquecer as eleições", diz Godoy.
"A desvalorização cambial é a última alternativa que deve ser tomada, pois é muito maléfica", afirma Roberto Setubal, presidente do Banco Itaú e da Febraban (federação que reúne os bancos).
Para Setubal, "o ajuste fiscal é a resposta correta contra a desvalorização da moeda".
Alcides Tápias, presidente do conselho de administração da Camargo Corrêa S/A, diz que "o próprio governo anunciou que, ao longo de dois anos, iria operar um ajuste de câmbio suave, com a previsibilidade possível".
Segundo Tápias, "além de não desvalorizar o câmbio, o governo deve negociar com o Congresso a aprovação das reformas".
Para Hugo Miguel Etchenique, diretor-presidente do conselho de administração do grupo Brasmotor, "uma desvalorização abrupta não seria positiva agora".
"Os problemas de curto prazo poderão ser resolvidos com uma desvalorização gradual do real, dentro de um ano e meio", diz Etchenique.
Alfredo Rizkallah, presidente da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), também considera "extemporânea" qualquer mudança na política cambial.
"O momento é de consolidar o elenco de medidas já adotadas e apressar a aprovação das reformas", diz Rizkallah.
Hans Grether, vice-presidente financeiro da Philip Morris, acha que "o governo vai relutar ao máximo em mexer no câmbio".
"Vão tentar tudo que a imaginação permitir, e deixar uma desvalorização para depois das eleições. Depois, não temos dúvidas de que mexerão", diz Grether.
No orçamento enviado à matriz, a Philip Morris não previu nenhuma desvalorização em 1998.
A Siemens prevê uma desvalorização gradual. Antônio Corrêa de Lacerda, diretor de economia e planejamento estratégico da Siemens, entende que o câmbio realmente está valorizado. "O governo vair ter que manter a política de desvalorização gradual. Mexer no câmbio, agora, reativaria a memória inflacionária", diz Lacerda.
O diretor da Siemens diz que "o câmbio não pode estar só a serviço da estabilização, mas do desenvolvimento".
Mario Garnero, presidente do Brasilinvest, não acha que o câmbio esteja sobrevalorizado.
Garnero diz que "uma modificação no câmbio daria um sinal errado ao mercado internacional: uma desvalorização traduziria sinal de desespero, sem volta".
Turismo e câmbio
"Não acreditamos, de forma alguma, que o governo vá desvalorizar o câmbio", diz Fernando Pinto, presidente da Varig.
Arnim Lore, diretor financeiro da Varig, diz que as medidas para incentivar o turismo no Brasil contam com o apoio da empresa.
Para Wagner Canhedo, presidente da Vasp, o governo tem de buscar outras saídas, e não promover a desvalorização da moeda. "Seria o início do fim do Real."
Para Janyck Daudet, presidente do Club Med para a América do Sul, "antes de mexer no câmbio, o governo deveria taxar de alguma maneira as importações de luxo e diminuir o custo de quem vai exportar". Ele é contra a cobrança de taxa de embarque de R$ 90 para estrangeiros, porque isso significa um freio para o turismo", diz.
Roland De Bonadona, diretor-geral da Accor Brasil Hotelaria, diz que o maior problema não é a supervalorização do real, mas o equilíbrio das finanças públicas.
Exemplo paulista
Eduardo Capobianco, do PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais), diz que "uma maxi, agora, seria uma coisa desastrosa para a estabilidade da moeda".
"Antes de mexer no câmbio, o governo federal deveria olhar o exemplo do governo de São Paulo, que soube fazer a lição de casa", diz Capobianco.
Sérgio Porto, presidente do Sinduscon-SP (sindicato da construção), também descarta uma maxidesvalorização. "Para que essa hipótese fique mais distante, teremos que aumentar as exportações e diminuir as importações", diz.
Lawrence Pih, do Moinho Pacífico, acha difícil prognosticar quando virá uma mudança cambial, pois ela depende primordialmente de fatores externos.
"Quando se sucumbe a uma incursão especulativa, o nível racional de equilíbrio perde para o emocional, e a desvalorização tanto pode ser de 10% quanto de 50%", diz Pih.

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