São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 1997
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'Disney' traz horror de Ridley

ALVARO MACHADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O pesadelo chama-se "Killer Disney" e inclui um assassino serial, um anjo exterminador que mastiga baratas e um casal de gêmeos suspeito de executar os próprios pais.
Curitiba assiste primeiro: a peça estréia no dia 21 de novembro no conjunto do teatro Guaíra e apresenta às platéias brasileiras o lado teatral do pintor, cineasta, romancista e dramaturgo inglês Philip Ridley, 37.
Sempre pelas mãos do grupo Satyros -surgido em São Paulo em 1989 e hoje radicado em Lisboa e Curitiba-, o texto também será montado na capital paulista, em abril de 98.
Ivan Cabral, ator principal de "Killer Disney" e um dos criadores dos Satyros, está acertando a presença do autor na estréia paulistana.
Até agora, Philip Ridley era conhecido no Brasil apenas como cineasta: além de assinar o bizarro roteiro de "Os Implacáveis Krays" (90), escreveu e dirigiu o cult "Reflexo do Mal" (90) -sucesso na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e ainda seu melhor filme, que chegou a ser definido como uma versão para o cinema do quadro "O Grito", de Edvard Munch.
Híbrido
Mais recentemente, Ridley filmou "The Passion of Darkly Noon" (95, em vídeo no Brasil como "Paixões na Floresta"), segundo ele "um híbrido entre 'Aladdin' e 'Psicose'".
"The Pitchfork Disney" ("O Forcado Disney") é a primeira e mais encenada de suas três peças. As montagens mais recentes aconteceram em Londres, Paris e Austin (Texas).
Mas o multiartista não pára aí. Seus quadros têm frequentado galerias de vários países europeus, e a Inglaterra premiou seus romances e livros infantis.
Reincidindo no humor negro, gosta de se apresentar da seguinte maneira: "Sou como um médico que estaciona seu furgão ao lado de um campo de batalha e, revolvendo feridas e machucados, pergunta: 'Isso dói?'".
Sua obra alinhava um mosaico de fantasmas contemporâneos -de homicidas seriais ao holocausto nuclear-, que, em sua voltagem de horror, remetem ao teatro do absurdo de Samuel Beckett.
Olhar infantil
A maior originalidade parece estar na elaboração de uma lógica baseada em olhar infantil sobre a realidade, como na "Alice" de Lewis Carroll.
"Inocentemente perversas" a ponto de provocar a morte dos entes mais próximos ou vítimas da teia de incomunicabilidade e das armadilhas morais do mundo adulto, as crianças e seu universo são uma referência constante ou central.
Às vezes, mesmo adultos são desenhados com os traços de "crianças grandes", como Presley e Haley Stray, o casal de gêmeos de "Killer Disney".
"Os psicólogos que analisaram a trama da peça nos afirmam que, caso tais personagens, que talvez tenham matado os próprios pais, saíssem de seu isolamento e assumissem a condição de adultos, se transformariam em serial killers", diz o satyro Ivan Cabral.
A direção de "Killer Disney" foi oferecida ao curitibano Marcelo Marchioro, que já conheceu um sucesso comercial em São Paulo, em 88. "O Olho Azul da Falecida", de Joe Orton, com Paulo Goulart, permaneceu mais de um ano em cartaz na cidade.
Para Marchioro, o universo de Ridley guarda parentesco com os do francês Bernard-Marie Koltès e do austríaco Thomas Bernhard, referências obrigatórias do palco europeu nesta década.
O grupo Satyros tem obtido sucesso de público em Portugal desde 92, quando se transferiu para a Europa, mostrando em princípio peças idealizadas no Brasil: "Sade ou Noites com os Professores Imorais" e "Saló, Salomé".
(AM)

Peça: Killer Disney, de Philip Ridley
Onde: auditório Glauco Flores de Sá Brito (teatro Guaíra), Curitiba
Quando: de 21 de novembro a 7 de dezembro; de qui. a sáb., às 24h, e dom., às 18h
Quanto: R$ 15

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