São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 1997
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"Junk Mail" equilibra arte e entretenimento

THALES DE MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

Exibido pela última Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, "Junk Mail" não é inovador. Suas qualidades nascem de um equilíbrio entre o chamado cinema de arte e o entretenimento.
O filme tem uma narrativa às vezes arrastada. Longas sequências sem diálogos são essenciais para criar a atmosfera de curiosidade e, principalmente, ansiedade que move os passos do protagonista.
O curioso personagem principal é carteiro em Oslo e leva uma vida miserável. E a cidade norueguesa nunca esteve tão miserável no cinema. Tudo se passa nos bairros mais pobres, próximos aos trilhos que cortam a capital.
Um dos prédios pequenos e caindo aos pedaços que proliferam na área é o cenário principal. Nele mora uma garota misteriosa, que um dia esquece seu molho de chaves na caixa do correio. O carteiro não resiste à tentação de entrar no apartamento da mulher.
Não há maldade na invasão. Ele não rouba nada, apenas age como um adolescente, cheirando roupas nos armários, bisbilhotando o álbum de fotos, comendo algumas guloseimas na cozinha...
O carteiro gosta da brincadeira, faz uma cópia da chave e passa a frequentar o apartamento quando a mulher sai para trabalhar. O diretor Pal Sletaune sabe conduzir o filme com fluidez, tornando o espectador cúmplice do invasor.
A brincadeira toma tons mais dramáticos quando o carteiro escuta recado na secretária eletrônica e descobre o envolvimento da mulher com um crime. Completamente e platonicamente apaixonado, ele passa a acompanhar seus encontros com um tipo suspeito, provável parceiro dela.
O simplório carteiro acaba envolvido com um psicopata, um moribundo no hospital, uma prostituta enfurecida, uma sacola de dinheiro, dois brutamontes que pretendem surrá-lo e, claro, sua amada, que continua nem sabendo da existência dele.
Com doses de humor negro e violência, "Junk Mail" parece um filme dos irmãos Coen dublado em norueguês. Para reforçar a semelhança com o cinema independente americano, o ator principal (o ótimo Robert Skjerstad) é a cara de Tim Roth, figurinha carimbada dos filmes de Quentin Tarantino e seus colegas.
Foi essa geração americana que criou nova cara para os filmes independentes, preocupados também com o sucesso comercial. "Junk Mail" segue a cartilha.

Filme: Junk Mail
Direção: Pal Sletaune
Produção: Noruega, 1996
Com: Robert Skjerstad e Andrine Sether
Quando: a partir de hoje no Espaço Unibanco 2

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