São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 1997
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Filme revela um mestre

LÚCIA NAGIB
DA ENVIADA ESPECIAL

"Entretenimento" é a palavra que Masayuki Suo mais usa a respeito de "Shall We Dance?". Trata-se, naturalmente, da tradicional modéstia japonesa, pois o filme é muito mais do que isso.
Além das "gags" e da montagem ágil, num ritmo dançante que amarra o espectador até o final, existe a mão de um mestre.
O protagonista Sugiyama, um assalariado entediado, não está simplesmente cochilando em suas viagens diárias de trem. Está também sonhando, e de repente encontra uma linda mulher na janela de uma escola de dança. Ele reúne suas forças e se apresenta como aluno. Então, abre-se a porta de sua fuga imaginária do Japão.
Mas livrar-se de sua máscara nativa exige treinamento. A dança o obriga a passos e gestos largos e ousados, opostos à atitude contida japonesa. Sua língua se enrola para repetir os termos em inglês. A professora que o encanta também parece alienígena: magérrima e alta, muito além da média japonesa.
Aos poucos, Sugiyama vai quebrando as amarras e quase perde o controle do corpo: os pés não param de se mexer debaixo da escrivaninha. O filme não promete mais que isso para o herói, no qual não se opera nenhuma grande mudança. Mas justamente aí reside o encanto da história: na descrição colorida, movimentada e cheia de vida daquilo que se passa na cabeça de tantos assalariados japoneses que, por fora, parecem meros zumbis, exaustos em sua viagem diária de volta para casa. (LN)

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