São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 1997
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Cenas explícitas de mercado

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Na segunda-feira, alguém espalhou rumores de que estava para quebrar o International Bank of Asia, braço de um grupo financeiro árabe baseado em Hong Kong.
Formaram-se filas às portas de suas 28 agências.
Uma senhora que fora às compras, nada sabia dos rumores, mas tinha conta no banco, viu a fila, aderiu e sacou seu dinheiro. "Eu não sabia o que estava acontecendo, mas, como tenho uma poupança no banco, entrei na fila também", explicou a senhora, conforme relato do jornal "The International Herald Tribune".
Sem o saber, ela está contribuindo com a crise brasileira, ao praticar um ato de, digamos, "exuberância irracional".
Tudo o que Hong Kong dispensa agora é a quebra de um banco.
Se quebrar, agrava a já lancinante crise desatada há duas semanas, quando um ataque especulativo ao dólar da ex-colônia britânica plantou as sementes de um crash que vai se tornando global.
Uma cena como essa de Hong Kong é a evidência micro do grande cassino em que se transformou a economia planetária. Mas não é a única.
Tome-se por exemplo o caso de David Whyss, economista chefe da Standard & Poor's, uma corporação que se dedica a avaliar a saúde financeira de bancos e instituições congêneres.
"Eu achava que Hang Seng era uma espécie de gíria dos surfistas da Califórnia", diz Whyss. Agora, antes do café da manhã, ele é obrigado a checar se o Hang Seng (que vem a ser o índice da Bolsa de Valores de Hong Kong) subiu ou caiu.
Em compensação, a cadeia "Food by Phone", de entrega de refeições rápidas de Hong Kong, está vendendo como nunca. Motivo: o pessoal da Bolsa local come no posto de trabalho, enquanto espera a abertura da Bolsa de Nova York, de manhã nos EUA, madrugada seguinte em Hong Kong.
Algo me diz que essa não é uma maneira civilizada de viver. Mas é o tal de mercado em cenas explícitas.

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