São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 1997
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Crash baiano

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Foram necessários os quatro principais governadores, dois ministros, dois economistas brilhantes e uma passadinha da primeira-dama. Para quê? Para o presidente da República decidir dizer que é ele quem manda, não o ACM.
Foi no jantar de quarta, no Palácio da Alvorada. FHC, Covas, Jereissati, Marcello Alencar, Eduardo Azeredo, Malan, Serjão, André Lara Resende, o tucanato-mor querendo entender o que se passa na economia, para tentar deduzir o que vai se passar na política.
Muita aula acadêmica e muito blablablá depois, ficou evidente que não há mágicas para correr do El Niño, da sanha dos capitais internacionais e do efeito desses fenômenos na eleição. O melhor a fazer é rezar.
Então, o que tanta gente importante conseguiu efetivamente discutir no Alvorada? Fácil. A petulância de ACM, que não aceita o aumento do IRPF e já decretou no Senado: "A equipe econômica manda lá, aqui mandamos nós". Os incomodados com esse El Niño baiano que se retirem.
Se antes era Serjão quem ameaçava a autoridade presidencial, agora é ACM. A diferença é que o PFL se uniu contra Serjão, e ele perdeu. O PSDB tenta se unir contra ACM e não adianta nada. Pelo menos no território dele, o Congresso.
No discurso, ACM já ganhou. Os tucanos ficaram com o ônus de assumir o pacote fiscal como o mal necessário, que não pode ser mexido. A ele coube o bônus de defender a classe média.
No primeiro minuto, ACM exigiu mudanças no pacote. No segundo, Kandir admitiu fazê-las. No terceiro, FHC concordou. Fica difícil voltar a fita e fingir que nada disso aconteceu. Agora, é na queda-de-braço. Quem é bom nisso é o senador baiano.
Como resultado do jantar da tucanagem, FHC vociferou ontem contra aqueles que "gritam como se fosse em nome do povo". Depois, chamou justamente aquele que mais grita para conversar no Planalto. Tarde demais. Os governadores voltaram mudos para casa. ACM continua no palanque, com a boca no trombone.
*
Serra, convidado, não foi ao jantar. Kandir nem convidado foi.

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