São Paulo, domingo, 16 de novembro de 1997
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Juro 'na lua' não atrai investidor externo

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

O Banco Central jogou os juros na lua para enfrentar a fuga de dólares do país. A taxa básica foi de 1,58% para 3,07% ao mês, ou de 20,7% para 43,7% ao ano. Aparentemente irresistível, mesmo esse juro não vem atraindo o capital estrangeiro.
Executivos financeiros não se admiram com o fato de o investidor externo de curto prazo não ter vindo correndo para cá.
Em primeiro lugar, porque esse juro é pontual. Os 43,7% são a projeção, para 12 meses, da remuneração atual, do auge da crise.
Há sérias dúvidas sobre quanto tempo os juros serão mantidos em patamar tão elevado, mesmo porque há um impacto direto e oneroso sobre o custo da dívida pública.
Como o desequilíbrio das contas externas, o déficit fiscal, das contas do governo, é uma das variáveis nas quais o estrangeiro fica de olho para decidir onde aplicar.
Em segundo lugar, porque a remuneração do capital externo não chega a 43,7% ao ano ou mais.
Há um "pedágio" de 2% de IOF (imposto) na entrada de investimentos externos de curto prazo, até um ano, lembra Marcelo Giufrida, vice-presidente de investimentos do Banco CCF Brasil.
Há também, na saída, o Imposto de Renda de 15% sobre o rendimento e a variação cambial do período da aplicação, acrescenta o matemático financeiro Emilio Volz, vice-presidente de "private banking" de um banco internacional nos Estados Unidos.
Supondo taxa bruta de 3,1% ao mês, a líquida cairia para 2,6%.
Como o investidor terá de comprar dólares a uma taxa mais alta para remetê-los de volta ao exterior, e o câmbio desliza num ritmo de 0,6% ao mês, a remuneração fica em 2,02% ao mês, ou 27,2% ao ano. É o chamado cupom cambial líquido (ver gráfico abaixo).
Acontece que o dinheiro do investidor estrangeiro deixou 2% com o "leão" ao entrar no país. Se, por hipótese, ele vai ficar uns 90 dias, o ganho líquido no cupom seria de 6,2%. Retirando, grosso modo, os 2% do IOF, a rentabilidade recua para 4,2%, ou seja, 1,38% ao mês ou 17,9% ao ano -sem contar que o banco pode cobrar taxa pela operação.
Nos EUA, afirma Volz, é possível aplicar em eurobônus a taxas de 12,5% a 14% ao ano. Vale a pena correr o risco de mandar o dinheiro para o Brasil para obter um pouco a mais?, indaga o executivo.
Os juros no Brasil podem baixar e, mesmo descartando uma hipotética mídi ou máxi, a desvalorização do real diante do dólar pode correr a 0,8% ou 0,9% ao mês, alterando o resultado, diz ele.
Se o investidor em eurobônus optar por alavancagem -ganhar mais com menos dinheiro-, financiado por um banco à taxa Libor mais 1% ao ano, a rentabilidade do papel sobe para 16% ou 17% ao ano, nos EUA, sem os riscos de ir ao Brasil, explica Volz.
Dependendo da operação, o investidor pode ganhar 21% ao ano.
Mesmo com o investidor externo fora, Volz acha que o mercado tende a se acalmar. A Bolsa brasileira, bem mais barata, está despertando de novo interesse, relata ele.
Na avaliação de Volz, a alta dos juros não foi inútil porque, se não atraiu novos aplicadores, evitou que outros saíssem do país, além de inibir o consumo.
Deixando de lado hipóteses de catástrofes na Ásia ou por aqui, Giufrida prevê que os estrangeiros devem voltar a partir de janeiro, fechados os balanços de 97.

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