São Paulo, domingo, 16 de novembro de 1997
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Iraque pede ataque árabe contra os EUA

OTÁVIO DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Um jornal dirigido pelo filho mais velho de Saddam Hussein, Udai, pediu ontem que árabes ataquem alvos dos EUA e do Reino Unido na região.
O apelo é uma tentativa de conseguir apoio para o Iraque na crise com a ONU. Norte-americanos e britânicos são os dois membros do Conselho de Segurança da ONU que não descartam o uso da força contra o país.
"Interesses britânicos e norte-americanos, embaixadas e navios na região árabe devem ser alvos de operações militares e ataques de comandos por forças políticas árabes", disse o diário "Babel".
O tom desafiador surge ao mesmo tempo em que cresce a pressão sobre o país. Anteontem, os EUA enviaram o segundo porta-aviões para a região do golfo Pérsico.
O Iraque resiste em permitir que inspetores norte-americanos da ONU participem de inspeções em seu arsenal. Toda a equipe das Nações Unidas deixou o país anteontem, depois da expulsão de seis norte-americanos por Bagdá. A ONU suspeita que o Iraque esconda armas de destruição em massa. A destruição dos arsenais é condição para o fim do embargo econômico imposto em 1990.
O vice-premiê do Iraque, Tareq Aziz, disse em Paris que, se o país produziu algum tipo de arma química, isto ocorreu antes de 1991, e os ingredientes dos armamentos estariam agora inativos.
A ONU, entretanto, desconfia da sinceridade dos líderes iraquianos. Cerca de seis anos de inspeções contínuas não teriam sido suficientes para que a ONU considerasse concluído o trabalho de desmantelamento do arsenal de armas de destruição em massa desenvolvido pelo Iraque, assim como seus mísseis de longo alcance.
O embaixador australiano Richard Butler, 55, chefe da Unscom, a comissão responsável pelo desarmamento do Iraque, diz que a missão de fiscalização ainda não foi concluída porque o Iraque teria criado obstáculos sucessivos ao trabalho da comissão.
"Esta é uma história de resistência e falta de colaboração. Fomos constantemente enganados", afirmou Butler à Folha na última quarta-feira, um dia antes de o Conselho de Segurança da ONU decidir retirar todos os inspetores da Unscom do Iraque.
Embora seja categórico em afirmar que o Iraque fez o que pôde para ludibriar a ONU, Butler não quis dar detalhes sobre o que ainda pode restar do arsenal iraquiano.
"Se eu disser que eles possuem dez mísseis, eles me entregariam os dez mísseis e diriam que está tudo acabado", diz o chefe da Unscom. "Mas eles podem ter 20 mísseis. Por isso, não dou detalhes."
"O Oriente Médio é a região mais tensa e fortemente armada do mundo. O fato de o Iraque possuir o tipo de armas que possuía era muito desestabilizador para os outros países da região", afirma. "Se eles tivessem mísseis de longo alcance, até países de fora da região estariam ameaçados."
Na Guerra do Golfo, o Iraque lançou mísseis Scud contra Israel. Entretanto, a principal ameaça de Saddam -a de que os projéteis transportariam agentes químicos- não foi cumprida. Com a derrota do Iraque, a ONU decidiu destruir o arsenal iraquiano.
"Destruímos muita coisa, mas ainda não chegamos ao fim", afirma o chefe da Unscom. Entre os supostos artifícios usados pelo Iraque para esconder as suas armas, ele cita o caso de um laboratório alimentício que conteria produtos utilizados em armas químicas.
Embora a Unscom não revele o que encontrou no Iraque, especula-se que o país possuísse -e ainda possua, ao menos em parte- armas feitas com as toxinas botulinas, agentes VX e mostarda (ver quadro abaixo), entre outras.
Durante a década de 80, o Iraque utilizou armas de destruição em massa contra soldados do Irã, com quem estava em guerra. Também existe a possibilidade de Saddam ter usado esse tipo de armas para sufocar revoltas da minoria curda.
Desde o final da Guerra do Golfo, a Unscom tenta fazer um levantamento exato do poderio militar iraquiano, no que diz respeito às armas químicas, biológicas ou até mesmo nucleares, com o objetivo de eliminá-las.
Segundo o líder iraquiano, Saddam Hussein, os EUA, principal potência da aliança militar que derrotou o Iraque na Guerra do Golfo, estariam espionando o país sob a proteção da ONU e da comissão especial de desarmamento.

Com agências internacionais

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