São Paulo, domingo, 16 de novembro de 1997
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O grande vilão

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Nada era tão necessário diante do crash global como dobrar os juros. Nada, porém, poderia ter sido tão drástico.
O aumento de 10% no IRPF, o reajuste da gasolina, o IPI dos carros e a taxa de embarque de US$ 90 para o exterior batem direto na veia da classe média. Mas viram fichinha diante de uma taxa de juros de 3,05% ao mês.
Mais abstratos e sorrateiros do que o IR, por exemplo, os juros têm peso maior na economia, corroem os R$ 20 bilhões que o governo espera abater no déficit fiscal e sugam qualquer poder de iniciativa dos Estados.
Tanto a CNI (Confederação Nacional da Indústria) quanto o deputado Paulo Bernardo (um petista expert em contas públicas) chegaram à mesma conclusão: tudo o que a União economizar com o pacote fiscal cobrado de tudo de todos, especialmente da classe média, vai ser consumido em seis meses só com a conta dos juros.
É mais ou menos como ficar pendurado no cheque-ouro. Você corta a aula de inglês das crianças, a churrascaria do domingo e o sorvete da sobremesa, mas não fica com um tostão e não abate a dívida. Os juros devoram tudo, sem piedade.
Os governadores perdem nas duas pontas. Numa, despencam compras e vendas, empregos e recolhimento de ICMS. Noutra, disparam a dívida pública e os problemas sociais.
"Politicamente, nada é pior do que os juros", diz claramente o governador Tasso Jereissati (CE) sobre o conjunto de medidas do governo.
É por isso que, enquanto ACM e PFL transformam o aumento do IR numa cruzada santa, Jereissati e os demais governadores tucanos preferem trabalhar nos bastidores pela flexibilização das taxas do BC.
Eles se comprometem a dar o sangue pela aprovação das reformas administrativa e da Previdência no Congresso. Em contrapartida, FHC e o comando da economia estudariam com algum carinho um refresco nos juros já a partir de 30, 40 dias.
Um pequeno recuo, mínimo que fosse, já seria suficiente. Não ainda para reaquecer a economia, mas para reanimar psicologicamente os eleitores na época do Natal.

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