São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 1997
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Prós e contras no câmbio

LUÍS NASSIF

Desvalorizar ou não o câmbio? Ir ou não ir ao FMI? Há a dificuldade de chegar a um consenso porque todas as propostas implicam riscos presentes ou futuros. E os resultados de cada decisão só poderão ser avaliados posteriormente.
Todas têm prós e contras e muitos "ses" pelo caminho:
Desvalorização do câmbio
* Contra - Dois riscos, um anterior, outro posterior à máxi. O anterior, de uma corrida contra as reservas cambiais, a partir de três frentes: as multinacionais, que procurariam antecipar a remessa de juros e dividendos; os devedores em dólares, que procurariam liquidar suas posições; e os especuladores, que tentariam ataques especulativos contra a moeda. Daí que, qualquer decisão teria que ser rápida.
Depois da máxi, haveria o risco de uma desorganização no sistema interno de preços e, caso os investidores não sejam convencidos de sua eficácia, de outros ataques especulativos contra a moeda. Poderia se voltar à velha espiral inflação-correção cambial. A máxi provocaria, de imediato, o aumento dos custos internos, que poderia gerar inflação (se repassada para os preços) ou mais recessão (se as empresas não conseguissem repassar). Para prevenir efeitos inflacionários, o governo teria que manter por mais algum tempo o aperto dos juros (que, de qualquer forma, já existe), conservando a economia sob rédea estreita até a recuperação dos superávits comerciais. Se não conseguir segurar a espiral inflacionária, perde-se tudo que se conquistou até agora.
* A favor - "Se" a primeira fase for bem-sucedida, "se" a pressão sobre os preços for contida e "se" os ataques especulativos forem rechaçados, o país sairá mais forte da crise, já que haveria uma rápida aceleração das exportações, podendo acabar com os déficits comerciais em prazo mais curto. Multinacionais e devedores desistiriam de remeter dólares, porque os prejuízos com a máxi já estariam consumados. Os especuladores desistiriam de ataques contra a moeda, sabendo que a recuperação externa será aprofundada. Assim como aprofundaria de imediato a recessão, também permitiria sair mais cedo dela, com a economia sendo puxada pela recuperação das exportações. Invertendo os sinais das contas externas, o capital externo voltaria a fluir rapidamente para o país.
Não desvalorização
* Contra - Há três maneiras de recuperar as exportações: com recessão (obrigando as empresas a venderem fora o que não conseguem dentro do país), estímulos variados e desvalorização cambial. Sem a desvalorização, o processo de recuperação das contas externas será mais lento, ou poderá não existir, mantendo a exposição do Brasil ao risco internacional. O processo recessivo também será mais prolongado. * A favor - "Se" a recessão conseguir produzir resultados rápidos, "se" as medidas extracâmbio surtirem efeito ou "se", ao menos, sinalizarem a mudança dos sinais na balança comercial, o país consegue superar a crise sem correr o risco de desorganizar seu sistema de preços interno.
Desvalorização com FMI
* Contra - Exporia de maneira definitiva a aposta errada feita pelo governo na manutenção das políticas cambial e monetária. Dependendo das garantias exigidas para o empréstimo (ações de grandes estatais brasileiras) abriria o flanco para um discurso nacionalista contra a "submissão" do Brasil ao FMI. Também haveria o risco de negociação demorada, com inevitáveis vazamentos acerca das mudanças cambiais, podendo acelerar o processo de fuga de reservas.
* A favor - Se acertada com rapidez, resolveria um dos grandes nós na implementação de uma desvalorização cambial, que é o risco de uma corrida contra as reservas brasileiras. Não haveria condicionalidades adicionais ao pacote fiscal. Ou seja, pode-se levar ou não a mercadoria (os empréstimos), mas o preço já foi pago.
Gustavo Franco
O presidente do Banco Central, Gustavo Franco, ainda poderá se tornar um grande homem público. É inteligente, conhece a fundo tanto a história econômica quanto a teoria monetária, aprofundou-se em conhecimentos de mercado, é ousado e tem jogo de cintura político que vem de berço -o pai era considerado terrível articulador palaciano nos tempos do segundo governo Vargas.
No entanto, tem um problema que poderá botar tudo a perder. É prisioneiro de um erro: a política cambial e de abertura do segundo semestre de 1994. De lá para cá, todas as suas atitudes e explicações são para tentar justificar o injustificável.
Não tem outro sentido essa sua declaração contra eventual ida ao FMI, comparando-a a uma rendição. Vai ao FMI quem precisa, não quem quer, e é aceito pelo FMI quem pode. Fica parecendo que a sua grande batalha não é a preservação das reservas nacionais, mas a não exposição dos erros cometidos na partida do Real.

E-mail: lnassif@uol.com.br

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