São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 1997
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Esquerda, volver

CLÓVIS ROSSI

Luxemburgo - Não são apenas as engrenagens financeiras que se movem à alucinante velocidade no mundo moderno. Os ventos políticos também, embora mais lentamente.
Pelo menos na Europa, o mal chamado neoliberalismo parece em franco retrocesso, depois de, no início da década, ter iniciado uma marcha triunfal que se desenhava eterna.
Exemplo micro: na Itália, a derrota nas eleições municipais de domingo provocou dúvidas até sobre a sobrevivência do chamado Polo da Liberdade, a coalizão comandada pelo polêmico empresário Silvio Berlusconi.
Francesco Cossiga, ex-presidente, ex-democrata-cristão e expoente do Polo, diz que o bloco está "finito". É uma inversão brutal em relação ao início dos 90, quando Berlusconi parecia prestes a coroar-se, além de primeiro-ministro, rei da Itália.
Exemplo mais macro: na Cúpula Social que se inicia hoje em Luxemburgo, a Europa vai discutir um pouco mais de intervenção oficial no mercado de trabalho. Um pouquinho só, mas o suficiente para marcar outra inversão.
"Há um ano, o que estava na moda era propor o desmantelamento da proteção social européia", diz Martine Aubry, ministra francesa do Emprego e da Solidariedade, estrela ascendente na política de seu país e da Europa.
Não, não está à vista um ressurgimento do comunismo. Nem sequer do socialismo. Até as gotas de social-democracia disponíveis são esparsas.
O que há, ou ao menos parece haver, é um retorno ao bom senso. Descobriu-se muito depressa que tão falsa quanto a utopia do Estado todo-poderoso, gazua para arrombar as portas do paraíso para a classe operária, é a utopia do mercado capaz de tudo prover, do dinheiro ao bem-estar social.
Agora, é ver como os governos social-democratas da França e do Reino Unido traduzem o bom senso em ações concretas que os diferenciem de seus antecessores liberais ou conservadores.

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