São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 1997
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Haja coração!

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Os governadores viveram grandes emoções ontem, um olho na Câmara, outro no Senado.
Na reforma administrativa, em votação na Câmara, o que lhes interessava não era tanto a quebra da estabilidade, mas a criação de um subteto salarial para servidores estaduais. Motivo: em ano eleitoral, nenhum deles vai mesmo demitir em massa. Assim, o que seria para valer, e já, seria um corte drástico nos salários.
"Já daria para compensar o aumento vegetativo da folha", admitia Tasso Jereissati, tucano do Ceará.
No Senado, o projeto em votação driblava obras eleitoreiras exigindo que 75% dos recursos das privatizações estaduais tivessem um único fim: o abatimento de dívidas.
De um lado, os aliados dos atuais governadores querendo manter a flexibilidade para usar os recursos. De outro, os candidatos aos governos tentando impedir essa flexibilidade.
Para ilustrar: o PFL sonha expandir seus domínios além da Bahia e de Pernambuco e batalhava incansavelmente pela aprovação do projeto. O PSDB, que governa e quer manter Estados poderosos como São Paulo, Rio, Minas e Ceará, era radicalmente contra.
Argumentos a favor: a instabilidade internacional e a cacetada que elevou os juros à estratosfera e atingiu em cheio o bolso da classe média. Se todo mundo deu a sua cota, por que os governadores não dariam a sua?
Argumento contra: o Senado não pode limitar, por sua vontade unilateral, o poder que os governadores conquistaram nas urnas de gerir as contas de seus Estados.
"Se você pode prender, soltar, fiscalizar, autuar, criar despesa e pagar, por que não poderia usar o dinheiro das privatizações?", indagava Jereissati.
Para animar a contenda entre as duas posições, um fato relevante: a venda da Enersul (a empresa elétrica de Mato Grosso do Sul), ontem, por R$ 625,5 milhões. Um ágio de mais de 80%. E na próxima terça é a vez da Cemat, no vizinho MT.
Agora, você decide: quem deve determinar o destino de toda essa grana? Os governadores candidatos à reeleição ou os senadores que querem o lugar deles?

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