São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 1997
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Exemplo a ser lembrado

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Pelo menos dois leitores, um do Rio, outro de Campinas, estranharam que eu citasse o exemplo do nazismo para ilustrar o malefício de certos investimentos especulativos. Paradoxalmente, a crônica de segunda-feira admitia no título que não se devia citar tal exemplo. Mas citei.
Citei e não me arrependo da citação. Há aquela história atribuída a Garrincha, que perguntou ao técnico se a tática a ser empregada no jogo contra os russos já havia sido combinada com os adversários. É mais ou menos a mesma coisa.
Cada vez mais me convenço de que o fenômeno nazista, que manchou nosso século e, de quebra, manchou a própria história da humanidade, devia ser melhor estudado em todos os níveis. O pavor que sentimos pela hedionda saga do nacional-socialismo alemão faz com que evitemos encarar o episódio, a ponto de esquecê-lo em suas múltiplas coordenadas.
São muitos os que o consideram apenas uma manifestação de anti-semitismo, sem lembrar que o nazismo foi uma ideologia análoga a correntes socioeconômicas que hoje atuam sob o nome asséptico de neoliberalismo.
Para simplificar: o nazismo pregava a supremacia de um grupo humano melhor aquinhoado pela natureza e pela geografia, cujos membros seriam necessariamente mais aptos a conduzir o restante do gado humano. Basta lembrar o trecho do livro de Hitler em que ele, esboçando a sociedade humana futura, condenaria os povos inferiores ao estudo da simples aritmética, proibindo-os de chegar à matemática.
Com isso, a raça eleita teria bilhões de escravos ou de fornecedores de mão-de-obra barata, que explorariam as matérias-primas necessárias ao conforto e ao progresso dos eleitos. Entre as raças inferiores, ele incluía judeus, eslavos, asiáticos e alguns segmentos latinos.
Conhecer o pensamento responsável pela modernidade, que empolgou a tantos nos anos 30, é uma forma de evitar que ela se repita.

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