São Paulo, domingo, 23 de novembro de 1997
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SP prepara venda de sua maior empresa

Cesp passa por ampla reestruturação desde 95

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo de São Paulo dá os passos finais para vender a Cesp (Companhia Energética de São Paulo), maior empresa do Estado e quinta do país, com patrimônio avaliado em R$ 14 bilhões.
Sua dívida também é imensa: até o mês passado, estava em R$ 12,5 bilhões. Foi reduzida a R$ 9,7 bilhões graças à privatização da CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz), da qual a Cesp era acionista majoritária.
A Cesp é maior do que a Vale do Rio Doce, cuja venda, em maio, provocou os mais violentos protestos já realizados contra o processo de privatização brasileiro. A Vale é a sétima empresa do país, com patrimônio de R$ 11 bilhões.
O secretário de Energia, David Zylbersztajn, espera obter cerca de R$ 11 bilhões com a venda da Cesp. Será um valor recorde no processo de privatização do país.
Preparação
Andrea Matarazzo, presidente da Cesp, prepara a estatal para a privatização desde janeiro de 1995, quando assumiu o cargo.
Graças ao ritmo que imprimiu às mudanças, Matarazzo ganhou do Sindicato dos Eletricitários de Campinas o apelido de "Angelo, o Alucinado" -referência pejorativa a seu primeiro nome, que ele detesta.
O sindicato o acusa de estar realizando um "desmonte" na Cesp, que poderá colocar em risco a qualidade do atendimento ao consumidor (leia texto nesta pág.).
Matarazzo cortou em 45% o número de funcionários da empresa e reduziu os gastos com pessoal de R$ 986,1 milhões por ano, em dezembro de 94, para R$ 661,6 milhões por ano, em agosto de 97.
Também acabou com os vícios que durante anos caracterizaram as estatais brasileiras, especialmente o empreguismo e os gastos desnecessários.
Entre os 19.705 empregados existentes até 95, cerca de 2.000 eram pagos pela Cesp, mas prestavam serviços a prefeituras, secretarias, Assembléia Legislativa e outros órgãos públicos. Todos foram chamados de volta. Parte foi reaproveitada e outra parte demitida.
Irracionalidade
Matarazzo afirma que a gestão anterior da Cesp era caracterizada pela ausência de racionalidade nos gastos. Alguns exemplos:
A Cesp tem uma frota de 2.500 carros, mas alugava outros 800- número que foi reduzido a 20.
A empresa usava 3.000 passagens aéreas por ano, apesar de possuir 4 aviões, 2 dos quais faziam vôos regulares para o interior. Matarazzo vendeu 2 aviões e reduziu o número de passagens a 980 por ano.
No departamento de gastos políticos estavam ainda obras que a empresa realizava no interior a título de reparação dos danos causados por suas atividades.
Só que, além de ações de conservação do meio ambiente, a Cesp passou a realizar asfalto, praças, escolas, delegacias etc -sem receber pagamento por isso.
O principal efeito desse cenário foi o aumento da dívida da empresa. Em dezembro de 1994, ela estava em cerca de R$ 9 bilhões, segundo Matarazzo. No mês passado, era de R$ 12,5 bilhões, a maior dívida de uma empresa brasileira, na avaliação do presidente da Cesp.
No início de 95, a empresa teve de fazer empréstimos para pagar seus custos até que os cortes fossem feitos. A Cesp gasta entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão por ano com juros e serviço da dívida.
Fim de agências
Para cortar gastos, Matarazzo acabou com as 240 agências de atendimento ao público que a Cesp tinha no Estado. Elas foram substituídas por ligações telefônicas gratuitas (0800).
A empresa economizou R$ 40 milhões por ano com o fim das agências e investiu R$ 3 milhões na criação do novo serviço.
Na ponta da receita, houve combate à inadimplência, que caiu de 13% para 3%. Outra providência foi a instalação de medidores nas residências de 150 mil clientes (de um total de 1,4 milhão) que não tinham seu consumo controlado.

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