São Paulo, domingo, 23 de novembro de 1997
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TIRADENTES VIRA CIDADE CENOGRÁFICA DA REDE GLOBO

MARIANA SCALZO
ENVIADA ESPECIAL A TIRADENTES

A Rede Globo causou o efeito de um furacão na histórica cidade de Tiradentes, no interior de Minas Gerais.
Para produzir cenas da minissérie "Hilda Furacão", a emissora contrariou normas de conservação de monumentos e gravou dentro da Igreja Matriz -um edifício barroco do século 18, onde até fotos com flashes são proibidas.
Fez mais: fechou ruas, trocou lampiões, mudou a fachada de casas coloniais, transitou pelas estreitas ruas com pesados caminhões, interditou pontos turísticos nos finais de semana e deu rasantes de avião e helicóptero destelhando várias construções.
Acabou gerando a indignação de comerciantes, moradores e técnicos do patrimônio histórico.
A história
Com 5.430 habitantes, Tiradentes (distante cerca de 200 km de Belo Horizonte e 450 km de São Paulo) faz parte do patrimônio histórico nacional.
O município foi tombado pelo Iphan ((Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em 1938, fazendo parte das cidades históricas do Ciclo do Ouro de Minas, ao lado de São João del Rey, Mariana e Ouro Preto.
A antiga Vila de São José é uma típica cidade do século 18, com ruas estreitas com calçamento de pedra do tipo pé-de-moleque, casas coloniais e oito igrejas barrocas principais.
Uma equipe de produção da emissora, chefiada pelo diretor Wolf Maia, com cerca de 150 pessoas, passou mais de um mês na cidade para as gravações de "Hilda Furacão".
A minissérie de 28 capítulos, adaptada do romance homônimo de Roberto Drummond, tem estréia prevista para a última semana de maio. Ana Paula Arósio e Rodrigo Santoro fazem os principais papéis.
A trama
Nesse cenário histórico, a Globo vai contar a vida da "Garota do Maiô Dourado", a jovem Hilda, que abre mão de sua posição na alta sociedade de Belo Horizonte para viver na Zona Boêmia, na prostituição.
O enredo do livro se passa nos anos 60 em Belo Horizonte e em Santana dos Ferros, também no interior de Minas, mas não faz nenhuma referência a uma cidade do século 18.
Segundo a produção, Tiradentes foi escolhida por ter boa infra-estrutura para receber a equipe e, principalmente, por ter um rio que corta a cidade, fundamental na trama.
Para gravar na cidade, a emissora teve de pedir autorização para a prefeitura. "O responsável pelas filmagens nos procura e nós damos autorização", diz Elvio Garcia (PSDB-MG), prefeito de Tiradentes.
"Não cobramos nada. Só um diretor da Globo de Minas arrumou um aparelho de recepção de sinais da emissora para a cidade", completa o prefeito.
A emissora também contatou a arquiteta do Iphan Maria Isabel Câmara, responsável pelo escritório de Tiradentes.
Segundo ela, a Globo fez um documento prevendo algumas mudanças reversíveis na cidade e se comprometendo a contratar um arquiteto para supervisionar a "desprodução".
Parte do contrato vem sendo cumprido. Desde a última semana as obras de reconstituição vêm sendo executadas. Mas o problema levantado pelo patrimônio é que a emissora foi além desse contrato.
"Eles avisaram que iriam envelhecer algumas fachadas, mas, de repente, comecei a ver mudanças por todos os lugares. Em nenhum momento disseram que filmariam dentro da Matriz ou que sobrevoariam a cidade com os aviões. Não se sabe até que ponto isso pode abalar as estruturas das construções", diz Maria Isabel.
Tiradentes já foi cenário de outros programas da Globo, como "Memorial de Maria Moura" e "Rabo de Saia". "Dessa vez já foi um avanço procurarem o patrimônio histórico. Geralmente, chegam e tomam conta. É uma invasão. Quando vão embora é um alívio", fala.
A decisão de aceitar as filmagens é endossada por Ralph Araújo Justino, secretário de esporte, lazer, cultura, turismo e meio ambiente de Tiradentes, visando aumentar a divulgação da cidade.
"Tem de ter um pouco de paciência e ver os dois lados da questão. Queremos aumentar o turismo. Com as gravações, saem reportagens no país inteiro", pondera Justino.
Roberto Câmara, gerente de produção, e Wolf Maia, diretor da série, foram procurados pela Folha durante uma semana, mas não atenderam a reportagem.

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