São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 1997
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Equilíbrio alimentar é segredo da saúde

ANTONIO HERBERT LANCHA JR.
ESPECIAL PARA A FOLHA

Ao se aproximar a virada do século, pesquisadores em todo o mundo vêm reafirmando a preocupação existente desde meados da década de 80 com a melhoria da qualidade de vida.
Os fatos demonstram que o sedentarismo, oriundo do avanço tecnológico, aliado com hábitos alimentares desequilibrados, resultam em uma combinação perigosa e indesejável como obesidade, diabetes, hipertensão, entre outros.
A partir daí, diversas nações em todo o mundo adotaram políticas de incentivo à prática regular de atividade física, bem como campanhas de informação para mudanças do comportamento alimentar.
A mais famosa campanha foi realizada pelo governo dos EUA em 1992. Após extensa pesquisa, a ingestão elevada de alimentos ricos em lipídios na dieta norte-americana foi identificada como a responsável pela ocorrência das patologias como as descritas acima.
Divulgou-se então a pirâmide dos alimentos (veja figura nesta página), que pretende demonstrar graficamente como organizar a alimentação a fim de alcançar a distribuição calórica adequada dos nutrientes.
Foram adotadas estratégias com o intuito de estimular a prática regular da atividade física, como divulgação de mapas das cidades com os parques públicos e as atividades neles contempladas. Paralelamente, campanhas publicitárias reforçavam os benefícios dessa prática.
No Brasil, no Estado de São Paulo, está em curso atualmente o programa Agita São Paulo, que visa incentivar a prática regular da atividade física.
No âmbito empresarial, diversas companhias adotaram políticas de incentivo à prática regular de exercício físico pelos funcionários, por meio de seus grêmios e clubes, além da preocupação institucional de implantar cantinas com cardápios controlados por nutricionistas.
Todas essas estratégias, efetivamente, despertam o interesse individual, pelo qual o cidadão, alvo de todas as preocupações, passa a ser sensibilizado. Na verdade, esse fator é determinante, pois de nada adiantaria todas as políticas mundiais de incentivo às mudanças de hábito alimentar e prática regular de atividade física se não houver a incorporação desses conceitos pelas pessoas.
Individualmente, as mudanças podem ocorrer quando as pessoas possuírem maiores informações de como realizar a própria alimentação equilibradamente. Hoje, assistimos a divulgação de dietas de sete dias, dietas à base de frutas, dieta da lua e outras tantas. Efetivamente, nenhuma dessas dietas pode ter efeito se não ocorrer a identificação do fator determinante da obesidade. Assim, apenas a reeducação alimentar é efetiva, pois garante a modificação dos hábitos alimentares fazendo com que o indivíduo assuma o controle de sua alimentação amparado por um profissional nutricionista. As dietas da moda determinam uma imposição alimentar que, na sua quase totalidade, violam os paladares individuais. O indivíduo, tão logo termine o período da dieta imposta, retornará a sua alimentação antiga, responsável pela ocorrência da patologia, no caso a obesidade.
Atualmente, estudos desenvolvidos em nosso laboratório na Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo em conjunto com o Centro de Práticas Esportivas da USP demonstraram que além da reeducação alimentar, com o intuito de redução do percentual de gordura corporal, a prática regular e controlada da atividade física é fundamental para preservar a musculatura, muitas vezes comprometida nos períodos de restrição na ingestão de alimentos.
Outro ponto bastante interessante é que, ao se tornar mais ativo, o indivíduo promove aumento da massa muscular. Os músculos são formados por células de grande demanda energética. Isso representa aumento na necessidade calórica diária, resultando em maior quantidade de alimentos a ser consumido.
O consumo de alimentos, por sua vez, deve obedecer a critérios de distribuição ajustada dos nutrientes (carboidratos, lipídios, proteínas, vitaminas e minerais) como mostrado na pirâmide de alimentos.
Em nossos estudos percebemos que os indivíduos, de uma forma geral, quando pretendem reduzir a gordura corporal, eliminam alimentos que fornecem carboidratos ao organismo (a base da pirâmide -pães, cereais, massas entre outros). Esse fato faz com que ocorra uma reorganização no metabolismo que determina, a longo prazo, perda de massa muscular e, não muito raramente, manutenção ou até aumento da gordura corporal.
A estratégia mais eficiente está em reduzir os alimentos ricos em gordura e manter, em quantidades adequadas, os alimentos fornecedores de carboidratos. A respeito da velha questão "massa engorda?", a resposta é: não é a massa que engorda e sim os molhos que a revestem, ricos em gordura.
A degradação de lipídios (gordura) é então controlada de forma precisa pelo organismo. Este responde a degradação das gorduras com maior eficiência quando mantemos a concentração de glicose no sangue estável.
Assim, o consumo de alimentos deve obedecer também uma distribuição quantitativa dos mesmos. Maior número de refeições com menor quantidade de alimentos em cada. Com isso teremos favorecido a oxidação de lipídios como fonte energética.
Podemos então perceber que a estratégia de mudança de hábitos alimentares e o comportamento em relação à atividade física são fatores determinantes para a melhoria da qualidade de vida dos indivíduos. A parte que cabe ao cidadão é a de incorporar essas mudanças e incluí-las nas rotinas diárias como outras já consagradas, como o sono e a higiene pessoal.
No âmbito institucional, o incentivo à prática regular de exercícios e estratégias de oferta de alimentos mais saudáveis aos funcionários resulta em pessoal mais produtivo e com menor incidência de doenças.
Já ao governo cabe incluir nos programas de primeiro e segundo graus a disciplina nutrição, com o objetivo de tornar o aluno consciente de suas necessidades nutricionais e mais crítico quanto aos alimentos a serem consumidos. Com isso teremos uma nação mais saudável e, consequentemente, com uma melhor qualidade de vida.

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