São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 1997
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OS BANCOS NA CRISE

Nem tudo é ruim na avaliação dos efeitos da crise global sobre o Brasil. Por exemplo: analistas sublinham que, ao contrário dos sistemas bancários dos "emergentes" asiáticos, o brasileiro já passou pela sua fase mais traumática de ajuste. Essa diferença pode ser fundamental na avaliação das possibilidades de retomada econômica depois da turbulência.
De fato, uma das características da crise asiática é o grande risco de quebradeira em seus sistemas bancários, a começar pelo do Japão. Tanto países mais atrasados, como a Tailândia, quanto os mais avançados, caso da Coréia do Sul, sofrem as consequências da especulação imobiliária, de décadas de intervenção dos governos por meio de subsídios financeiros e de corrupção endêmica.
Num ambiente de crescimento acelerado, essas perversões ficam ocultas enquanto se festejam os "milagres econômicos", alguns deles, diga-se de passagem, promovidos por ditaduras militares rapaces. Os problemas aparecem quando o crescimento econômico cai abruptamente, na esteira de um processo de democratização ou quando a bolha especulativa se rompe.
Aliás, o crescimento rápido pode ter servido na Ásia como uma anestesia semelhante à inflação crônica no Brasil, "lubrificando" os conflitos e facilitando a convivência com distorções políticas e institucionais.
No Brasil, a denúncia da corrupção, a democratização, o choque da estabilização sobre a gestão dos bancos e mesmo a abertura do sistema financeiro a grupos estrangeiros já ocorreram ou estão em curso. Isso não significa que, a depender do tamanho da recessão que se desenha, os bancos do país não enfrentem mais um duro período de ajuste.
Mas é razoável esperar que, quando a poeira da crise global baixar, essas diferenças fiquem mais claras, acima de tudo para os investidores que examinarem com mais detalhe as estruturas das economias emergentes.

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