São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 1997
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Ao sucessor, as duplicatas

VAGUINALDO MARINHEIRO

São Paulo - 1º de janeiro de 1997: em São Paulo e Belo Horizonte, Paulo Maluf (PPB) e Patrus Ananias (PT) fazem festa para entregar o poder municipal a seus sucessores.
Não faltam motivos para comemoração: eles tiveram o "sucesso administrativo" reconhecido pelo eleitorado e entregam a prefeitura a aliados. Resta esperar dois anos para algo mais ambicioso.
Mas, menos de um ano depois, a festa acabou. Em São Paulo, dos buracos nas ruas às obras paradas, das unidades do PAS triando doentes às piscinas públicas fechadas por falta de conservação, tudo mostra que a prefeitura está em situação falimentar.
Em Belo Horizonte, às vésperas de completar cem anos, a cidade parcela o salário dos funcionários e não há investimentos.
O que aconteceu? Celso Pitta e Célio de Castro são tão incompetentes que conseguiram arruinar a azeitada máquina administrativa e financeira em 11 meses? Ou os prefeitos anteriores não hesitaram em quebrar os cofres públicos para fazer os sucessores?
As duas afirmações parecem corretas e preocupantes. Assim como é preocupante o levantamento do Seade que mostra que em 1995 88% dos 625 municípios do Estado terminaram o ano com déficit nas contas.
Mas falta responder a uma outra questão. Por que, dentro da política brasileira, não existem mecanismos para punir maus administradores?
Se esses prefeitos, atuais e anteriores, tivessem feito em uma empresa privada o que fizeram nas prefeituras, hoje não seriam mais do que um número no índice de desemprego da Fiesp. Arrumar outro emprego com uma passado desses? Jamais.
Mas no Brasil não é crime ser mau administrador público. Nem impedimento para outras eleições isso causa.
Talvez por essa inimputabilidade (parece que temos governantes menores de idade), esses prefeitos insistam em "transmitir o legado de miséria" e distorcer o humanitas machadiano. Para eles, vale "ao sucessor, as duplicatas".

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