São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 1997
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Freio de arrumação

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - PFL de ACM mais PPB de Paulo Maluf igual à antiga Arena. E o antigo MDB, cadê?
Está aí, sonhando em recuperar um projeto social-democrata com o próprio FHC, mas expurgado do PFL e compensado com a adesão da esquerda refratária a uma chapa encabeçada por Lula e o PT.
O PFL sempre foi o aliado leal e conveniente de FHC. Bate continência para os comandantes, vota unido a favor do governo e aceita trocar ministérios por cargos decisivos no Congresso e no pródigo segundo escalão federal.
Mas se ACM engrossa a voz e Bornhausen, José Jorge e Inocêncio Oliveira não o contestam, a morte anunciada da aliança pode ser antecipada de 2002 para 1998. Nunca se sabe.
A tendência é todo mundo achar que ACM grita e FHC manda recados irados apenas como um jogo de sedução.
Pelo sim, pelo não, já há fundadores do PSDB -governadores inclusive- tentando uma saída à esquerda se algo emperrar à direita.
Entram aí, por exemplo, parte do PMDB, o PPS que acolheu Ciro Gomes e o PSB de Miguel Arraes, que ora vai para um lado, ora para outro. Gerou até apostas no meio político.
Pergunte-se de chofre a Ciro Gomes: "Se der Lula e FHC no segundo turno, você fica com quem?"
A resposta é rápida, sem titubear: "Fico com o Fernando".
O ideólogo da sua candidatura no Congresso, Roberto Freire, jamais seria tão claro, especialmente depois acusado de "tucano enrustido" pela cúpula do PT. Mas sabe-se que ele concorda com Ciro. E que Jereissati continua no circuito.
Arraes mantém o discurso de esquerda, mas prestando serviços a FHC e a um projeto alternativo. Impediu que Ciro fosse candidato pelo PSB e faz que vai, mas nunca vai, para Lula.
Olhando para o passado e para o horizonte de longo prazo, ACM tem mesmo mais a ver com Maluf e FHC tem mais a ver com Ciro, Freire e Arraes.
Essa reaglutinação não é fácil, mas é inegável que o sacolejo das Bolsas no mundo foi uma espécie de freio de arrumação na política brasileira. No mínimo, assanhou as mentes mais criativas. O que não é pouco.

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