São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 1997
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Prepotência na PUC

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - O conselheiro Acácio dizia que a democracia é a convivência de contrários. Alunos da PUC do Rio de Janeiro lançaram um jornal interno, que procura balançar verdades -algumas descaradamente provisórias, outras permanentes até segunda ordem.
Houve ação e reação. O jornal questiona as celebrações da revolta de Canudos e a realização de uma "Semana de Consciência Negra", na qual descobre um tipo de racismo às avessas. Acusação, de resto, que é feita comumente ao sionismo, rotulando-o de racismo a favor de um grupo discriminado e perseguido durante séculos.
A reação foi desproporcional à ação. Os responsáveis pela publicação foram agredidos, quase linchados, a direção da PUC ameaçou-os com penas que iam até a suspensão.
Idéia se combate com idéia -essa frase parece que não é de Acácio, mas deve presidir a convivência social. Li o jornal dos rapazes. O questionamento de Canudos é bem argumentado (acho que a mesma linha de pensamento valeria para a recente santificação de Lampião). Canudos foi uma estupidez em que fanáticos e governo erraram, sendo que o governo errou mais e pior.
Quanto à semana da consciência negra, o jornal comete o mesmo erro do qual está sendo acusado. É lícito ao negro contar a história a seu modo e lutar pela sua completa integração social. O branco até aqui impôs sua verdade. Porém, em nome dos agravos secularmente recebidos, a reparação não deve partir para a retaliação racial. Em nível universitário, contudo, a discussão é válida e até necessária. É lícito questionar qualquer tipo de verdade ou direito.
Um debate acadêmico, ao pé da letra, não podia descambar para a violência. A reitoria da PUC comete prepotência ao optar pelo circunstancialmente mais forte. Cristo foi crucificado porque Pilatos fez a mesma opção pela maioria eventual que estava mais próxima.

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