São Paulo, sexta-feira, 5 de dezembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Juro trará "sacrifício pequeno", diz FHC

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem em Londres que o sacrifício imposto à sociedade brasileira pela recente elevação das taxas de juros "será relativamente pequeno, se comparado à vantagem de ter uma moeda estabilizada".
A declaração foi feita após visita à Canning House, instituição filantrópica voltada para a difusão da América Latina, como explicação adicional ao discurso que fizera na véspera.
Nesse, FHC lamentara ter sido obrigado a elevar a taxa de juros, em consequência da "situação internacional" e admitira que, "nos próximos meses, essas medidas representarão um sacrifício para os brasileiros".
Ontem, disse que as medidas "pesarão desigualmente", porque o governo "procurou preservar os mais pobres". O peso maior, segundo o presidente, será para "quem tem rendas maiores".
Como prova de que não haverá recessão, usou o argumento das privatizações do Banco Meridional, ontem, com ágio de 55,97%, e da companhia elétrica de Sergipe, anteontem, com ágio de 96,06%.
Para o presidente, os dois exemplos mostram que "há disposição para investir", o que, em tese, é um seguro relativo contra a recessão.
Novos tremores
Coerente com a tese de que foi "a situação internacional" que forçou o governo a "caminhar na direção oposta à que vinha trilhando" (ou seja, de redução gradual dos juros), FHC insistiu na sua pregação por algum controle do fluxo de capitais internacionais.
"Não me parece que devamos aguardar de braços cruzados novos tremores, como se fossem forças incontroláveis da natureza", disse na noite de quarta.
Ontem, elogiou o FMI (Fundo Monetário Internacional), pela rapidez com que atuou na crise asiática, mas disse que "existem problemas que não estão resolvidos".
Acrescentou que a preocupação com o fluxo de capitais "não pode se limitar ao G-7 (o grupo dos sete países mais ricos do mundo), porque é uma situação que atinge o conjunto de países".
Mas FHC fez questão de esclarecer duas coisas:
1 - quando fala do fluxo de capitais, não está se referindo apenas ao capital especulativo, "que é parte de um processo mais amplo";
2 - não está defendendo "a idéia de policiar o mercado" e, sim, a de ter mais informações. "O que está acontecendo nos países da Ásia mostra que, quanto mais informação, melhor", disse, após se avistar com o primeiro-ministro britânico, Tony Blair.
FHC conversou com Blair sobre o tema, inclusive para tentar diferenciar o Brasil da Ásia. Contou ter mencionado o fato de o sistema financeiro brasileiro ter sofrido uma crise em 1995.
Acrescentou: "Mas, graças ao Proer (o programa de ajuda aos bancos), temos hoje um sistema financeiro mais estabilizado e sadio".
FHC e Blair assinaram também um Plano de Ação Conjunta, destinado a aperfeiçoar o relacionamento bilateral, em especial nas áreas de comércio e investimentos.
O plano prevê a criação de um Conselho Consultivo Empresarial, no primeiro trimestre de 98.
"O trabalho do conselho consistirá basicamente em promover ações concretas (missões comerciais, seminários, por exemplo) em cada um dos países, para estimular o intercâmbio comercial e os investimentos', diz a nota oficial.

Texto Anterior: Projeto de lei torna gratuitas as certidões de nascimento e óbito
Próximo Texto: Presidente almoça com primeiro-ministro
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.