São Paulo, sábado, 6 de dezembro de 1997
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As palavras do sociólogo

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Hábil com as palavras, o sociólogo FHC fala um monte de coisas que não faz.
Foi assim na sua visita ao Reino Unido. Nos textos enviados por Clóvis Rossi, soubemos que o presidente brasileiro disse que a resposta para os problemas contemporâneos "não está em menos, mas em mais democracia".
FHC disse isso no dia em que passou mal com o chapéu usado na cerimônia da LSE (London School of Economics), quando recebeu mais um título honorífico, o que tanto o apraz.
Sobre democracia, considerou necessário explicitar seu pensamento: "Radicalizar a democracia significa dar condições efetivas de liberdade para que todos, mesmo os que não estão organizados, falem".
Esse tipo de discurso do presidente não é novo. Ele o repetiu ao longo de toda a sua vida. O curioso é o que ele faz na prática.
Para ficar num exemplo imediato, em Londres mesmo, FHC assim se referiu a uma manifestação de apoio aos direitos indígenas no Brasil: "Será que esse pessoal não aprende que é importante discutir, conversar, que não adianta nada gritar?".
Esse episódio londrino é até pequeno para expressar o verdadeiro apreço de FHC pela democracia. Vamos ao que importa: o que ele e seu governo fizeram pelo aperfeiçoamento das instituições democráticas do país? Resposta: aprovaram a emenda da reeleição.
Pior do que não propor algum tipo de reforma política, o presidente e seu grupo seguidor ainda se apropriaram de todas as deficiências do sistema vigente no país. A relação espúria com o Congresso tem sido hoje idêntica à que se deu em outros governos.
Não é o caso aqui de dizer que FHC seja contra a democracia. Nada indica isso em suas palavras. Só sua prática. Mas, afinal, quem precisa de prática? Na academia é sempre assim.
E, para quem for dando a desculpa de que "política é a arte do possível", muito obrigado. Como alguém já disse um dia, é por isso que a política reúne, quase sempre, pessoas medíocres. É que os gênios preferem o impossível.

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