São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 1997 |
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Desempregado anda 52 km e cata R$ 600
MARIO CESAR CARVALHO
Com esse dinheiro, ele faz o milagre da multiplicação: sustenta dois desempregados, seus amigos. A rotina de Souza, o recordista em volume de latas catadas neste mês na Latasa, não é mole. Às 4h da manhã ele já está de pé, na casa de dois cômodos que divide com três amigos em Pirituba (zona noroeste de São Paulo). Sai às 4h30, anda 13 km a pé até o depósito da Latasa na Barra Funda, onde vende as latas que catou no caminho. Carrega até 40 kg de latas nas costas. Às vezes, faz duas vezes esse trajeto. Quando chega às 20h em casa, andou 52 km -10 km a mais do que numa maratona. Preconceito Catando 200 kg por semana, ele ganha R$ 560 por mês, vendendo a R$ 0,70 o quilo. Precisa juntar 53.600 latinhas para chegar a esse valor -1 kg equivale a 67 latinhas. Souza não reclama do trabalho pesado. Reclama do preconceito. "Não sou mendigo, nem maloqueiro. Sou desempregado, mas não me deixam entrar em ônibus nem no trem com as latas", diz. O preconceito e a ausência de benefícios são as grandes diferenças da época em que Souza trabalhava na Camargo Corrêa, Odebrecht, Mendes Jr. e Cetenco. Seu ganho atual é maior que os R$ 300 que recebia para pilotar uma retroescavadeira. Com o que ganha com as latas, Souza quer se aposentar. Faltam dois anos para completar os 35 de serviço requeridos. Casa própria ele já tem, em Itapetinga (BA). Veio para São Paulo atrás de emprego, não achou e acabou se virando com as latas. Virou recordista em latinhas porque tem seus macetes. Sua mina de ouro é a linha do trem entre a Água Branca e a Barra Funda. Sua reza tem sempre um pedido a São Pedro: "Rezo pelo calor porque aí o pessoal bebe mais, joga mais latinha e eu ganho mais". (MCC) Texto Anterior: Litoral pode ficar sem atendimento de urgência Próximo Texto: Excesso de álcool lota hospitais na praia Índice |
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