São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 1997
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Férias coletivas adiam ajuste no salário

FÁTIMA FERNANDES
SÉRGIO LÍRIO

FÁTIMA FERNANDES; SÉRGIO LÍRIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Indústrias elogiam acordo do Sindipeças, mas novas propostas vão depender das vendas de Natal

As férias coletivas, que se intensificam a partir desta semana, vão adiar para janeiro as negociações sobre redução de jornada de trabalho e de salários.
Apesar de o acordo fechado na semana passada entre a Força Sindical e a indústria de autopeças -que vai permitir o corte de até 10% nos salários e 25% na jornada- ter despertado o interesse de outros setores, a maioria dos empresários vai esperar os resultados das vendas de Natal para decidir se fazem a mesma proposta a seus empregados.
Por enquanto, só os empresários da construção civil pretendem iniciar já as negociações com os trabalhadores. Amanhã, o Sinduscon, que representa as empreiteiras, e o sindicato dos trabalhadores de São Paulo se reúnem para discutir as bases de um possível acordo.
A intenção das empreiteiras, no entanto, é estabelecer um cronograma de negociações, que devem ficar mesmo para o início do próximo ano.
A própria Volkswagen, que propôs a redução de 20% nos salários e na jornada em troca da demissão de 10 mil dos 22,9 mil funcionários da fábrica de São Bernardo, na Grande São Paulo, já trabalha com a idéia de que o impasse com os metalúrgicos ficará congelado até meados de janeiro.
Diretores da montadora e dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, ligado à CUT, se reúnem na terça-feira, mas o encontro servirá mais para cumprir a agenda de negociações.
"Nós queremos convencer a empresa a adiar suas decisões, porque não iremos negociar enquanto os funcionários estiverem parados", afirma o presidente do sindicato, Luiz Marinho.
As férias coletivas na Volks começam no dia 22 e se estendem até o dia 5 de janeiro.
As próprias empresas de autopeças, que já podem se beneficiar do acordo entre o Sindipeças e a Força, vão esperar a chegada do novo ano para definir se aderem ou não ao acordo.
Segundo o presidente do Sindipeças, Paulo Butori, as empresas já tinham programado seu final de ano -e definido o período de férias coletivas- quando o acordo foi assinado. "As adesões vão acontecer a partir da metade de janeiro", diz.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, concorda: "O acordo foi feito muito tarde para as autopeças mudarem seus planos". Até ontem, nenhuma empresa havia manifestado interesse em aderir. O Sindipeças, no entanto, espera a adesão de 70% das fábricas onde os trabalhadores são filiados à Força, o que significa entre 150 e 200 empresas.
Efeito restrito
Butori duvida que ocorra uma adesão em massa de outros setores à idéia. "Nosso problema é específico e refletimos o comportamento das montadoras. Nos outros setores, se uma parte vai mal, a outra pode estar bem. Não há tanta interdependência quanto no automotivo."
A posição dos empresários de outros segmentos parece confirmar esse ponto de vista. Muitas das indústrias ouvidas pela Folha acreditam que, se as vendas do final de ano se recuperarem, é possível resolver o problema dos altos estoques com o prolongamento das férias coletivas ou a adoção de banco de horas, que estabelece uma jornada flexível, onde as folgas são compensadas com horas extras.
"Nós achamos a idéia de redução interessante, mas ainda não discutimos isso", diz Paulo Skaf, vice-presidente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil).
O setor emprega cerca de 800 mil pessoas no país. Skaf acredita que 90% dos empregados já estão em férias coletivas ou vão entrar na semana que vem.
Flexibilidade
A indústria eletroeletrônica também vê a redução de jornada e de salário como uma boa opção para adequar a oferta à demanda.
Algumas empresas já começaram a negociar. É o caso da Semp Toshiba, que pretende reduzir em 25% a jornada e o salário dos empregados a partir de fevereiro.
A Eletros, que reúne os fabricantes de eletroeletrônicos, deve discutir o assunto numa reunião na próxima semana. "A produção e o salário precisam ser flexíveis", diz Roberto Macedo, presidente da entidade.
José Aoad Raya, presidente da Abifa (Associação Brasileira de Fundição), diz que vê com bons olhos a redução de jornada e de salários, mas considera que o setor ainda não viu necessidade de adotar essa medida, por enquanto.
"Vamos discutir como está o desempenho do setor na próxima terça-feira numa reunião com os empresários", conta Raya.
Ele diz que no momento o setor está atendendo a pedidos importantes, como de infra-estrutura, caminhões e ônibus.
A Abimaq, que reúne a indústria de máquinas, tem a mesma posição. Para ter uma idéia mais clara da opinião do setor sobre a proposta, está fazendo uma pesquisa com os fabricantes que deve ficar pronta até o fim da semana.
Sérgio Magalhães, presidente da Abimaq, diz que o banco de horas também é uma alternativa que deve ser considerada. Ele diz que o setor tem pedidos em carteira para trabalhar durante 16 semanas. O normal seria ter para 32 semanas.

Colaboraram Mauricio Esposito, da Reportagem Local, e a Agência Folha, no ABCD

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