São Paulo, terça-feira, 16 de dezembro de 1997
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Medo é 'driblado' com táxi e carona

Mulheres evitam sair de carro à noite sozinhas

FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

O medo de encarar frente a frente os bandidos da gangue da batida está mudando a rotina de muitas paulistanas. Intimidadas, elas não saem de carro durante a noite desacompanhadas. A solução foi utilizar táxis e pedir carona a amigos e parentes.
A estudante de psicologia Gabriela Eitelberg Azevedo, que mora nos Jardins (zona sudoeste), diz se sentir em uma guerrilha urbana. "Saio de casa e fico morrendo de medo, olhando para os carros ao lado para ver se tem alguém suspeito."
Sua mãe, a pedagoga Guila, proibiu Gabriela de andar com seu carro, um Fiat Uno, desacompanhada durante a noite.
"Estamos nos sentindo desamparadas e desprotegidas pela polícia", afirma Guila, que diz só ter autorizado a filha a sair na noite do último sábado porque estava com um amigo.
"Minha mãe me inferniza com essa história, mas acho que ela tem razão", diz Gabriela, que só vai a festas de carona ou táxi.
A bióloga Ana Paula Queiroz, moradora do Paraíso (zona sudoeste) que nunca foi assaltada na cidade, decidiu por conta própria evitar algumas ruas no período noturno, principalmente a avenida Faria Lima -uma das regiões mais visadas pelos bandidos e que fazia parte de seu percurso diário.
"Prefiro pagar um pouco a mais no táxi a arriscar minha pele. É uma situação insuportável de angústia e medo", diz Ana Paula. "No táxi especial, sei o nome do motorista e o número da placa do carro, o que transmite mais segurança."
Histeria
Ela diz que os pais de suas amigas estão "histéricos" com a gangue da batida. "O pai de uma amiga não deixa ela sair de carro nem de dia, nos últimos tempos", afirma Ana Paula, que tinha um encontro marcado para a noite de ontem -as três amigas planejavam ir de táxi.
Lucro
Motoristas de táxi que trabalham em pontos nas regiões mais visadas pela gangue da batida dizem que o movimento, principalmente de mulheres jovens, aumentou, nas últimas semanas.
"Um táxi de ponto é como um vizinho antigo. A gente dá segurança para essas pessoas", diz Antônio Chalegre, o Ligeirinho, que trabalha na rua Abílio Soares, no Paraíso.
Para o motorista Severino Lima Neto, que trabalha em um ponto na rua Rouxinol, em Moema (também na zona sudoeste), o medo das mulheres "esquentou a praça".
"O movimento de clientes estava muito fraco. Essa história (da gangue da batida) é triste e chata, mas pelo menos ajudou a gente a ter um Natal mais gordo", diz Neto.

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