São Paulo, quinta-feira, 18 de dezembro de 1997
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Oferta de auxílio faz M. desistir de aborto

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Os pais de M., 11, grávida de quatro meses, desistiram ontem de submeter a filha ao aborto autorizado na segunda-feira pelo juiz de Sapucaia (a 210 km do Rio). M. afirma ter sido estuprada, e os pais haviam recorrido à Justiça para que o aborto fosse autorizado.
O aborto seria feito ontem. Uma articulação entre o padre de Sapucaia, um médico mineiro e um grupo católico de São José dos Campos (a 87 km de SP) fez com que a família mudasse de idéia.
Anteontem, o ginecologista Altamiro Sathler Filho, 51, viajou 500 km de Pouso Alegre (MG) até Sapucaia para falar com o padre da cidade, Luiz Magalhães.
O médico disse ao padre que, ao contrário do que a família pensava, a gravidez da garota não implicava risco de vida para ela.
O padre intermediou o encontro entre o médico e o pai de M., o agricultor V.O., 38, que decidiu, então, desistir do aborto. No carro do médico, os três viajaram para o Rio anteontem à noite.
"Eu disse a ele que já fiz partos em garotas de até 9 anos. Mãe e filho sobreviveram. Disse que, se a garota tivesse acompanhamento, poderia ter o filho sem problemas. Ele pensava que a filha corria risco de vida, por isso a família optou pelo aborto", disse Sathler.
Também anteontem à noite, a Comissão Diocesana em Defesa da Vida de São José dos Campos enviara um fax à Prefeitura do Rio de Janeiro, que chegou à noite à maternidade Fernando Magalhães, onde a garota está internada.
No fax, como antecipou ontem a Folha, o grupo oferecia assistência à menina e pedia que o aborto não fosse realizado. Quando o pai de M. chegou ao hospital, já decidido a suspender a cirurgia, tomou conhecimento da proposta da comissão de São José dos Campos, e pediu que o aborto fosse suspenso.
Ele falou com a mãe da menina, M.P., 41, que concordou com a suspensão do aborto, e os dois conversaram com a filha. O médico Altamiro Sathler Filho disse que falou com a garota e que ela ficou tranquila ao saber da notícia.
A diretora do hospital, Carmen Athayde, disse que M. poderá ter alta hoje ou amanhã e continua recebendo assistência psicológica. Até anteontem, a menina era preparada para o aborto, mas ontem começou a receber informações sobre o parto. "Somos uma instituição de saúde e fazemos o que a família decidir", afirmou Carmen.
Durante o tempo em que o aborto esteve em discussão, os pais de M., embora tivessem pedido autorização judicial, pareciam confusos. Temiam pela saúde da filha, mas chegaram a dizer que pensavam em criar o bebê.
M. tinha medo de morrer e medo da cirurgia, fosse o parto ou para o aborto. Chegou a dizer que não tinha vontade de ficar com o bebê.

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