São Paulo, quinta-feira, 18 de dezembro de 1997
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Pacote foi definido em duas reuniões

SÉRGIO LÍRIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O economista Osvaldo Cavignato, do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, tentou, mas não conseguiu resistir ao sono.
Enquanto seu chefe, Luiz Marinho, e o diretor de recursos humanos da Volkswagen, Fernando Tadeu Perez, eram bombardeados pelos repórteres na entrevista coletiva em que anunciavam o plano de demissões voluntárias, Cavignato cochilava por alguns momentos no fundo do auditório do sindicato dos metalúrgicos, depois da longa jornada noite adentro a que foram submetidos todos os negociadores.
Foram três horas de sono entre a primeira reunião, que terminou a 1h20 de ontem, e a segunda, na sede do sindicato, que começou às 8h da manhã e durou até as 11h.
No momento em que Cavignato cochilava e a coletiva prosseguia, Ulrich Paschek, um dos gerentes de recursos humanos da Volks mundial, se preparava para voltar à Alemanha, depois de quase um mês no Brasil.
Paschek e Cavignato estiveram de frente um para o outro por quase dez horas durante uma das reuniões mais demoradas entre uma montadora e sindicalistas nos últimos tempos. Quase não falaram.
O encontro, marcado para as 15h30, começou atrasado. Enquanto o alemão Paschek, seu tradutor, Perez e dois de seus auxiliares esperavam em uma sala de reuniões na ala 7 da fábrica da Volkswagen em São Bernardo, Luiz Marinho era barrado na porta da fábrica pelos jornalistas.
O alemão
A reunião começou às 16h. Além de Marinho e Osvaldo, participaram pelo sindicato Clarindo Ferreira, da comissão de fábrica, dois diretores de base do ABC e dois diretores do sindicato de Taubaté, onde a montadora emprega cerca de 7.000 funcionários.
O sinal de que a reunião seria longa foi dado cerca de 40 minutos depois.
Os diretores da Volks apresentaram a proposta da empresa -que incluía corte nos benefícios, programa de demissão voluntária e terceirização- e foi feita a primeira das quatro interrupções.
"Está tudoi bem"
O grupo de diretores da Volks se reuniu em um canto ao redor de Paschek, que não pronunciou nenhuma palavra na reunião.
Os sindicalistas foram para outro canto e Marinho recebeu um telefonema: era o presidente da CUT, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, se oferecendo para ir até a Volks participar da discussão.
"Esta tudo bem", disse Marinho. Na conversa, a conclusão foi que o melhor era o presidente da CUT não participar.
Vicentinho foi a única pessoa fora da fábrica que falou com Marinho durante a noite. Pelo lado da Volks, Perez mantinha contato com o diretor corporativo, Miguel Jorge, que vem monitorando as negociações à distância.
A reunião foi retomada uma hora depois. Apesar das divergências, a necessidade de chegar a algum tipo de acordo antes das férias coletivas na montadora, que começam na semana que vem, empurrou a discussão.
Mais um intervalo, agora para o lanche -sanduíches preparados na cozinha da fábrica-, e a idéia de que o programa de demissões voluntárias seria a solução momentânea foi ganhando força.
Os acertos finais na proposta, no entanto, só foram feitos na reunião da manhã de ontem, no sindicato. Marinho deixou a Volks a 1h30. Ainda teve tempo de dizer a uma repórter da "Globo News" que os esclarecimentos seriam dados na coletiva das 10h.
Dono de um Escort 95, Marinho foi para casa em um Gol do sindicato. Perez e seus assessores saíram alguns minutos depois.

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