São Paulo, quinta-feira, 18 de dezembro de 1997
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MANDELA, O ESTADISTA

Nelson Mandela iniciou o processo de aposentadoria da vida pública ao deixar esta semana a chefia de seu partido, o ANC (Congresso Nacional Africano) -coligação que comandou a luta contra o apartheid na África do Sul e também o período de transição para uma democracia multirracial no país.
Dentro de dois anos, quando deve ser eleito o novo presidente, Mandela sai da cena pública. São gestos que reafirmam seu perfil de estadista, um dos raros homens públicos deste final de século que merecem tal qualificativo. Mandela já havido sabido liderar uma transição surpreendentemente pacífica, mesmo após anos de ódios acumulados como decorrência do brutal regime de segregação imposto pela minoria branca.
A maioria dos líderes em sua posição, ainda mais depois de ter passado 28 anos na cadeia, inclinar-se-ia pela vingança contra os opressores e não pela conciliação. Agora, Mandela dispõe-se a abandonar o poder, embora continue gozando de altíssimo prestígio. Prova: pesquisa de outubro mostra que 64,6% do eleitorado está disposto a votar por seu partido, mais até do que os 62,7% que o conduziram ao poder em 94.
É uma atitude que contrasta violentamente com a de tantos governantes, no mundo todo, que preferiram apodrecer no poder e, no percurso, causaram ou no mínimo permitiram o apodrecimento do tecido político, econômico e social de seus países.
A África do Sul continua sendo um país dividido por um apartheid, agora econômico-social. Mas Mandela conseguiu manter intacta a nação, contrariando as previsões de que a África do Sul seguiria o padrão de desintegração por disputas tribais.
Merece, pois, todo o respeito ao iniciar o processo de transformação de pai da pátria em mero avô de seus netos, o papel que, certa vez, confessou mais gostar de desempenhar.

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