São Paulo, quinta-feira, 18 de dezembro de 1997
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O Acre é aqui

CLÓVIS ROSSI

A má fama não é inteiramente injusta. Mas suspeito que algum especialista deveria mergulhar na análise das lideranças políticas de São Paulo no último meio século.
Aposto que descobriria que políticos sérios, responsáveis e de qualidade são uma reduzida exceção neste Estado. Predominam os aventureiros, os irresponsáveis, os folclóricos.
Não pode ser coincidência o fato de a versão original do "rouba, mas faz" pertencer a um legítimo paulista, Adhemar de Barros. Um de seus sucessores, Orestes Quércia, é o dono de outra pérola: "quebrei o Estado, mas elegi meu sucessor".
Verifica-se agora que, na mesma linhagem, Paulo Maluf poderia orgulhar-se de dizer: "Quebrei a Prefeitura, mas elegi meu sucessor".
É provável que a impunidade absoluta esteja na origem dessa sucessão de governantes pouco felizes, para usar uma expressão bastante cândida. No caso mais recente, o de Paulo Maluf, há mais do que impunidade: o governo federal prepara-se até para premiá-lo com suculentos empréstimos que cobrirão parte do rombo que abriu para eleger Celso Pitta.
Não será surpresa para ninguém se Mário Covas for obrigado a dizer, em algum momento do ano que vem: "Não quebrei o Estado, até arrumei um pouco a casa, mas em compensação não elegi meu sucessor". Pior: parece que, no Palácio do Planalto, há muita gente dizendo, baixinho: "Bem feito".
É lógico supor que qualquer futuro governante do Estado terá sempre em mente tais comparações na hora de fazer suas escolhas político-administrativas. São, pois, elevadíssimas as chances de que as lamentáveis tradições políticas paulistas continuem as de sempre, com as poucas exceções de praxe.

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