São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O FMI e a Coréia

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

A vitória do oposicionista Kim Dae Jung na eleição para a presidência da Coréia do Sul deve reavivar as tensões entre o FMI e o governo coreano. Como a situação financeira da Coréia é frágil, há o risco de novas ondas de instabilidade originando-se de lá com impactos por aqui. Uma parte da resistência contra o FMI resulta de uma incompreensão sobre o que é factível esperar dessa organização.
Em termos objetivos, o FMI é uma sociedade formada pelos governos dos países associados que têm como objetivo principal manter a ordem dos pagamentos internacionais. Ou seja, evitar a suspensão dos pagamentos por países que ficaram sem reservas de tal modo que uma possível interrupção de pagamentos não se propague para o mundo todo.
Os países recorrem ao Fundo em situações de crise em seus pagamentos internacionais tomando emprestado a juros um pouco inferiores aos de mercado. Via de regra, quando um país está em meio a uma crise, só há o FMI como emprestador internacional, posto que os bancos privados retraem-se deste papel.
Assim, o devedor fica sem outra alternativa a não ser que decida decretar uma moratória de seus pagamentos; mas daí incorrerá em todos os custos de afrontar seus credores e os governos dos países credores. Exceto em situações muito excepcionais, os custos dessa afronta é muito mais alto do que fazer um acordo com o Fundo.
Para evitar a quebra de pagamentos internacionais, o FMI formula todas as suas políticas e todos os seus programas de ajustamento condicionados a essa prioridade. Outros objetivos secundários podem ser contemplados, desde que não contrariem a lógica de permitir uma solução para o desequilíbrio externo.
A fonte de confusão quanto ao FMI é esperar que ele formule programas que resolvam não só o desequilíbrio das contas externas, algo que se resume a reduzir parte do consumo interno para pagar as dívidas externas, mas supor que disso resulte um programa de desenvolvimento que vá resolver os problemas internos. O Fundo não tem a capacidade intelectual ou técnica para essa formulação.
Um programa de desenvolvimento interno é algo complexo que expressa prioridades e escolhe estratégias, fatores que envolvem arte e visão e não nascem de fórmulas fáceis, possíveis de serem aplicadas por uma burocracia internacional e sem face.
A tensão que pode envolver o novo presidente sul-coreano e o FMI infelizmente não irá resultar em nada muito inovador. Depois que um país se torna muito vulnerável em suas contas externas, não há muitas alternativas abertas. As poucas escolhas referem-se em como distribuir os ajustes entre os setores internos, mas dentro de certos limites estreitos. A dificuldade será ver como fará o novo presidente Kim para comunicar esse fato aos seus eleitores.

Álvaro A. Zini Jr., 44, é professor titular da Faculdade de Economia e Administração da USP.

Texto Anterior: Maré alta da poupança acaba em 98
Próximo Texto: Plantio de soja será maior que o de milho
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.