São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 1997
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Leonardo DiCaprio desafia o naufrágio do "Titanic"

THALES DE MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

Aos 24 anos, Leonardo DiCaprio encabeça o elenco da produção mais cara da história do cinema, "Titanic", que custou mais de US$ 200 milhões e estreou na semana passada nos EUA. E diz que não tem medo do desempenho do filme nas bilheterias.
DiCaprio, que foi indicado para o Globo de Ouro de melhor ator -prêmio que é uma prévia do Oscar-, prefere fazer filmes "pequenos" e quer dar um tempo das superproduções. "Envelheci cinco anos com esse filme", diz.
"Titanic" conta a história do naufrágio do maior transatlântico do mundo, em 1912, durante sua viagem inaugural, matando mais de 1.500 pessoas. DiCaprio interpreta o pobretão Jack Dawson, que se apaixona por uma passageira milionária, Rose (Kate Winslet). O filme é dirigido por James Cameron, de "Exterminador do Futuro" e "O Segredo do Abismo".
Em um hotel londrino, DiCaprio falou à Folha por telefone sobre os desgastes das filmagens, seu trabalho e a luta por privacidade.
*
Folha - "Titanic" corre o risco de afundar na bilheteria?
Leonardo DiCaprio - É uma situação estranha. Qualquer filme que render US$ 200 milhões é um dos maiores sucessos da história, o sonho de qualquer produtor, mas esse custou US$ 200 milhões! Para começar a dar lucro, precisa fazer o dobro disso. Não é impossível, porque é um filme grandioso, a coisa mais impressionante que eu já vi numa tela. Mas há muita gente torcendo contra.
Folha - Qual a razão?
DiCaprio - James Cameron é um diretor que incomoda muita gente. É um sonhador, alguém que quer fazer filmes maiores que a vida. A indústria de Hollywood dá esses milhões para ele trabalhar, mas depois quer controlá-lo. E James é incontrolável. Rodamos o filme durante um ano inteiro, repetimos cenas mais de 80 vezes. O orçamento foi estourado várias e várias vezes. Os donos do dinheiro não gostam de gente assim, não respeitam artistas.
Folha - Valeu a pena passar um ano rodando um filme?
DiCaprio - Não tenho dúvida disso. É grandioso, tenho um orgulho enorme de fazer parte dele. E devo tudo a James, porque o estúdio não queria que eu fizesse o papel principal. Quando os produtores viram que o projeto estava ficando cada vez maior, quiseram trocar o ator principal. Acharam que eu não tinha nome para segurar uma produção dessas. E James bancou que eu ficasse. Acho que ele também teve medo, todos nós tínhamos, mas ele ficou do meu lado. Por isso, todo o sofrimento valeu.
Folha - Que tipo de sofrimento?
DiCaprio - Rodamos no México, numa réplica do Titanic, que se dividia em várias partes. Algumas cenas eram rodadas em terra, outras com o cenário boiando no mar, outras eram submarinas... Há sequências em que o cenário balança, fica inclinado quase 90°. Uma das cenas deu muito trabalho, o barco vira, e todos os móveis da cabine voam para cima de mim. Fizemos dez tomadas, fiquei todo machucado. James não ficou satisfeito, mas eu fiz o que pude.
Folha - Os críticos dizem que "Titanic" pode dar um Oscar a você.
DiCaprio - Seria maravilhoso, não vou ser idiota a ponto de negar, mas eu estou satisfeito com aquilo que o filme já me deu: orgulho de fazer parte dele e, principalmente, descobrir que sempre vale a pena lutar por uma coisa quando você acredita nela. Nunca vi uma equipe tão unida. Os problemas não paravam de aparecer, e a gente sempre encarava tudo. Se você escreve em um caderno para jovens, esta é a minha mensagem para quem está lendo: lute pelo que você acredita. É a melhor maneira de viver.
Folha - Você tem muitos votos na escolha dos melhores do ano pelos leitores do Folhateen e...
DiCaprio - Excelente!
Folha - No Brasil, você foi visto durante este ano em três filmes, "Romeu + Julieta", "As Filhas de Marvin" e "Eclipse de uma Paixão". E "Titanic" durou um ano para ser feito. Você não tira férias?
DiCaprio - Acho que estou num período de férias. Tenho de dar entrevista e fazer algumas viagens para divulgar "Titanic", mas não estou rodando nada agora. Só quero fazer filmes mais modestos por um tempo. Eu envelheci cinco anos em "Titanic".
Prefiro produções menores, em que o trabalho dos atores seja o centro da discussão no set de filmagens. Gosto também de papéis menores, que não exigem tanto do ator. "As Filhas de Marvin" foi gratificante. Tive tempo para trabalhar meu personagem, que não era o principal, e pude observar Meryl Streep e Diane Keaton atuando. Foi uma aula para mim.
Folha - Falando em atrizes, a imprensa divulgou alguns supostos romances seus, quase todos com atrizes: Sharon Stone, Claire Danes, Demi Moore, Kate Winslet...
DiCaprio - É tudo mentira. Invenção. Dê uma olhada nessa lista. Quase todas trabalharam comigo. Eu faço um filme atrás do outro, não tive tempo para namorar sério nos últimos anos. Aí você sai para jantar com a equipe de trabalho, e os jornalistas só reparam no casal de atores principais, como se só eles estivessem na mesa. Daí inventam um romance. Saio com amigas, às vezes a coisa vira um romance, mas não é o tipo de assunto que falo numa entrevista.
Só digo que sou um ator que tenta melhorar a cada trabalho. Para isso, preciso do julgamento das pessoas. Espero que elas gostem, porque eu trabalho com muita paixão. É só assim que eu sei fazer.

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