São Paulo, domingo, 2 de fevereiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Executivos excluem férias do calendário

SUZANA BARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Eles desconhecem o significado da palavra férias. Ano após ano, adiam seus 30 dias de descanso remunerado para desespero de mulher e filhos e continuam despachando dez horas por dia no escritório ou na fábrica.
Pode parecer estranho, mas não é pequeno o universo de executivos com esse perfil. Pesquisa do grupo Catho mostra que 17,3% deles tiram uma semana ou menos de férias por ano. E, quanto mais velhos, maior a tendência de abrir mão do descanso para trabalhar.
"Meus últimos 30 dias de férias foram há 14 anos. Depois, em 94, passei 15 dias na Itália", diz Ariovaldo Torelli, diretor da Viapol, empresa de impermeabilização.
Nos anos seguintes, o máximo que Torelli conseguiu foi conciliar viagens de negócios com um ou dois dias de lazer com a mulher no exterior. "Estou implantando a empresa no Brasil e, simplesmente, não dá para parar", afirma.
Outro exemplo é Paulo Hummel, 44, diretor da Conexão, empresa que monta equipamentos de informática. Suas últimas férias foram em 1993, quando passou 15 dias com a família na Bahia.
"Pretendo tirar novas férias, mas tive de adiar no Natal e já sei que terei de trabalhar no Carnaval", afirma.
Segundo ele, seus filhos sentem a ausência do pai e das férias. "Acho que eles são mais carentes, mas, por outro lado, valorizam a oportunidade de ficar comigo, sempre que é possível."
Desvantagem
Abrir mão das férias, no entanto, não é vantajoso para a empresa ou para o executivo, afirma Cláudia Lessa, consultora da Price Waterhouse.
"Empresas modernas estão exigindo que seus executivos tirem férias. Elas percebem que quem não descansa perde a vitalidade e fica mais irritado."
Para a consultora, a insegurança quanto ao emprego e o excesso de centralização são duas características de executivos que abolem as férias de seus calendários.
Valdemir Campelo, 57, consultor financeiro, discorda: "Desde jovem gosto de trabalhar e sinto-me bem assim", afirma.
Campelo nunca tira um mês inteiro de férias. Suas viagens de lazer são sempre curtas e acompanhadas de agenda e do telefone celular. "Não viajo sem deixar os telefones para as pessoas me encontrarem. E não acho ruim se estou na praia e as pessoas ligam para discutir problemas de trabalho."

Texto Anterior: Seguradora quer teste de DNA
Próximo Texto: Saída é conciliar negócio e lazer
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.