São Paulo, domingo, 2 de fevereiro de 1997
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Clubes "do Bolinha" mudam as regras

LUCIA MARTINS
DE LONDRES

Vários clubes e grupos fechados que nunca admitiram mulheres estão revendo suas posições e começando a abrir suas portas para o sexo feminino.
O movimento começou pelo Oxford e Cambridge Clube, uma associação de lazer das duas universidades britânicas que, no ano passado, decidiu aceitar mulheres como membros. Até antes da decisão, elas só podiam participar do clube como membros associados.
A lenda era que elas não eram admitidas no passado porque os diretores do clube acreditavam que as mulheres não sabiam guardar segredos.
Ainda no ano passado, os membros do clube de tênis Dublin's Fitzwilliam (Dublin, Irlanda) -que, por 120 anos, só permitiu a participação de homens- aprovou a admissão de mulheres.
Outros dois bastiões da cultura masculina também vão mudar suas regras este ano: a Orquestra Filarmônica de Viena e o clube de equitação da Escócia, que também estão aceitando mulheres.
A orquestra nunca admitiu mulheres desde sua fundação, em 1844, e o clube, desde 1514.
Aos poucos
Há ainda aqueles em que as mudanças estão sendo mais graduais, como o CCM (o Clube de Críquete de Marylebone), que afirma que o primeiro-ministro do Reino Unido, John Major, é um de seus membros.
No ano passado, ele começou a aceitar mulheres, ou melhor, "ladies" (damas), mas apenas como convidadas. Com isso, elas só podem assistir competições e, assim mesmo, em alguns dias marcados. A participação feminina nas competições nem chegou a entrar na pauta de discussões.
Resistência
Mas a resistência de alguns grupos ainda é grande. O Clube de Golfe, em Lanarkshire (centro da Inglaterra), perdeu, no ano passado, 40 mil libras (US$ 68 mil) por ter mantido a decisão de continuar não aceitando mulheres.
O dinheiro seria oferecido pelo fundo da Loteria Federal. Na reunião em que foi decidida a abertura ou não para mulheres, um dos membros gritou (segundo a candidata a participar do clube Mary McLaine): "Não vou vender o meu direito de nascimento por 40 mil. Prefiro perder o dinheiro".
Pela tradição
Vários clubes de jantares e encontros masculinos em Londres continuam irredutíveis. É o caso do White, que não as aceita nem como convidadas.
O Garrick, outro ponto de encontro masculino para jantar, aceita mulheres como convidadas. O RAC Club também, mas as inscrições têm de ser feitas pelos homens.
"Não acredito que as regras vão mudar nos próximos anos. Os membros estão acostumados a não ter nenhum olhar feminino por perto. Eles iriam se sentir vigiados", disse um membro do RAC, James Ackroyd.
Legalmente, os clubes têm o direito de discriminar quem eles quiserem porque eles estão excluídos do Ato de Discriminação Sexual. Para conseguir esse direito, eles têm de provar que são clubes privados, destinados a grupos específicos de pessoas.
O direito é o mesmo usado por igrejas e instituições de caridade para escolher seus membros.
(LM)

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