São Paulo, domingo, 2 de fevereiro de 1997
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Reeleição, vista de Oxford

CLÓVIS ROSSI

Davos, Suíça - Cruzo, pelos corredores do Centro de Congressos de Davos, com o ex-ministro argentino da Economia Domingo Cavallo. Pergunta se a emenda que permite a Fernando Henrique Cardoso disputar a reeleição já está valendo.
Explico que não, que faltam três votações ainda. "Mas é um bom sinal, não?", retruca Cavallo, em pergunta que traz implícita a resposta.
De alguma forma, a opinião de Cavallo coincide com a dos meios empresariais que têm algum ou muito interesse no Brasil.
Mas colide de frente com a visão da Oxford Analytica, uma consultoria internacional que se ampara na "expertise" de 750 professores da mitológica Universidade britânica de Oxford (entre outras).
Para começar, o pessoal de Oxford é irônico com FHC. Lembra que ele foi "um dos mais articulados advogados" da tese de que reeleição encoraja "o cesarismo plebiscitário".
Ou seja, estimula a tentação do César de turno de buscar o apoio das ruas utilizando os recursos à disposição dele (o que, em bom português, se chama uso da máquina pública). Completa a Oxford: "Especialmente dadas as deficiências das estruturas partidárias na América Latina e a debilidade das limitações institucionais às prerrogativas presidenciais".
A análise dos especialistas britânicos admite que "há razões de genuíno interesse público para levar em consideração reformas que permitam a reeleição".
Mas fuzila em seguida: "O processo (para fazer tais reformas) e o conteúdo delas, nas atuais circunstâncias, apresentam o risco de criar mais problemas do que resolvê-los".
Termina: "A energia e os recursos políticos que tais emendas requerem desviam o governo de outros objetivos, talvez mais importantes, tais como fortalecer a disciplina fiscal e fazer mais eficientes as instituições estatais".
Bingo?

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