São Paulo, domingo, 9 de fevereiro de 1997
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Padre sairá atrás do trio elétrico após celebrar a missa no Paraná

DEISE LEOBET
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM MATINHOS (PR)

O padre Joaquim Raimundo Braz, 36, da paróquia São Pedro, em Matinhos (100 km de Curitiba), celebra a missa hoje, mas depois troca a batina por bermuda e camiseta e sairá atrás do trio elétrico.
Ele será um dos destaques da Caiobanda, um dos trios elétricos mais badalados do litoral do Paraná. "Vou começar embalando todo mundo na missa para depois sairmos juntos para a rua."
Para o padre Joaquim, brincar o Carnaval não é pecado, "desde que seja com muita alegria".
Quando anunciou que iria cair na folia este ano, seus seguidores não ficaram chocados. Pelo contrário, a cada atitude ousada do padre, cresce o número de pessoas nas missas celebradas por ele.
O jeito desembaraçado do pároco, somado a medidas pouco ortodoxas, conquistou boa parte dos 11 mil habitantes de Matinhos e das 16 capelas atendidas por ele.
Os moradores da cidade costumam dizer que hoje os turistas vão ao litoral para ver três coisas: o sol, o mar e o padre Joaquim.
Vaidoso, ele adora andar na moda, de preferência com roupas de grife. Armani é a sua preferida.
Em verões anteriores, ele chegou a fazer uma enorme mecha dourada na franja e desfilava pelas ruas com uma boina rastafári.
Agito
"Este ano, a moda pede um corte mais certinho", explica. "O fato de eu ser vaidoso e gostar de mim não deprecia o meu trabalho. Até me dá mais ânimo para levar a palavra de Deus aos homens."
Ele confessa que gosta muito de "um agito". É fã de Fafá de Belém e de música sertaneja, tanto que tem vários discos da dupla Zezé di Camargo e Luciano. No final de janeiro, foi assistir ao show do cantor Sérgio Reis e acabou no palco cantando ao lado dele.
Todos os anos, é um dos convidados especiais da escolha da "Garota Caiobá", a festa mais badalada da orla paranaense, da qual já participou como jurado.
Este ano, ele escolheu a dedo o traje para ir à festa da "Garota Caiobá": terno salmão e colete e gravata de seda italiana.
Salmão é uma de suas cores favoritas, tanto que, quando reformou a igreja de Matinhos, foi essa cor que ele escolheu para pintar as paredes externas.
"Minha igreja ficou um tesão", costuma dizer, sem medo de falar palavrão, porque, segundo ele, "em tom de brincadeira não tem problema".
O padre conta que, quando assumiu a paróquia, há seis anos, a igreja "parecia um caixão de defunto". Ele organizou bingos, festas e bailes e conseguiu arrecadar dinheiro para a reforma.
Outra maneira encontrada pelo padre para conseguir dinheiro foi escrever livros. Ele já publicou dois, bancados com dinheiro do próprio bolso.
"Na época, ninguém quis me ajudar, mas agora tem um monte de gente querendo comprar os direitos autorais", lembra. Os livros, "Adeus à Depressão" e "Deus é Mãe", estão na quarta edição.
Cerca de 20 mil exemplares já foram vendidos, a maioria nas bancas de jornais espalhadas pelas praias do litoral, e renderam ao padre aproximadamente R$ 100 mil.

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