São Paulo, domingo, 9 de fevereiro de 1997
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China usa falências como arma

Quebras aumentaram 161%

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

A China, para enfrentar o problema das empresas estatais deficitárias, começa a usar uma arma que guardava como uma de suas últimas opções: falências. Em 1996, 6,232 companhias faliram, um aumento de 161,3% em comparação com o ano anterior.
A cifra de 1996 supera as falências registradas na China entre 1989 e 1995, quando quebraram 5,395 empresas.
Cerca de 75% das 108 mil empresas estatais chinesas geraram prejuízos que atingiram 69 bilhões de yuans (US$ 8,3 bilhões) entre janeiro e outubro de 1996. Foi um aumento de 45% em comparação ao mesmo período do ano anterior.
Empresas acumulam prejuízos porque não conseguem enfrentar a competitividade da economia de mercado que se instala na China. Desde 1978, o Partido Comunista implementa reformas pró-capitalismo, fórmula encontrada pelo dirigente Deng Xiaoping para tirar o país do fracasso econômico.
O insistente aumento dos prejuízos das estatais disparou um alarme que levou o governo chinês a estimular o uso da lei de falências, aprovada em 1988. Essa lei representava uma alternativa guardada como uma das últimas opções, pois o Partido Comunista teme a instabilidade social que pode ser provocada com a demissão dos trabalhadores das empresas falidas.
"É uma cifra surpreendente", disse o economista Cao Siyuan sobre o aumento de falências na China em 1996. Cao é um dos autores da lei aprovada em 1988 e hoje trabalha na área de consultoria.
"Muitas empresas que faliram no ano passado já estavam quebradas na realidade, mas tentavam não enfrentar a realidade", afirmou Cao. "Era uma situação na qual não havia outra alternativa, a falência era a única saída."
Cao avalia que cerca de 10 mil empresas podem quebrar neste ano, caso o governo não tome medidas para reverter essa tendência.
O governo chinês tentou usar um variado leque de alternativas para solucionar a crise das estatais, mas vem colhendo apenas fracassos. Buscou estimular investimentos estrangeiros e reformas administrativas, mas não obteve resultados positivos.
Para evitar falências, empresas estatais de grande porte encampavam companhias menores que enfrentavam dificuldades. O objetivo principal era não promover demissões em massa.
Choque
Uma "terapia de choque" das estatais, ou seja, aplicação mais frequente da lei de falências, poderia causar a demissão de cerca de 30 milhões de trabalhadores, calculam economistas chineses.
Não há dados disponíveis sobre o número de demissões causadas pela onda de falências em 1996. Mas o impacto no mercado de trabalho ainda não é significativo porque as falências agora atingem principalmente companhias de pequeno porte.
Cao afirmou que a tendência de aumento no número de falências se registra principalmente em regiões costeiras da China, onde as reformas pró-capitalismo já avançaram mais do que no interior do país.

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